A cada 10 novas lojas, 6 fecham as portas no Brasil

Cruzamento de dados da Receita Federal e IBGE revela a vulnerabilidade das microempresas que representam 88% das varejistas que fecharam as portas nos últimos 10 anos.

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Foto: Canva Pro
Por Redação em 26/11/2024 Atualizado: 26/11/2024 às 17:58

Entre janeiro de 2014 e agosto de 2024, o país registrou a inauguração de 11,6 milhões de lojas, o equivalente a 91 mil novos estabelecimentos abertos ao mês. Por outro lado, no mesmo período, foram fechadas 7 milhões de lojas, o que significa que 55 mil pontos de venda fecharam as portas a cada 30 dias nos últimos 10 anos, em média.

Ou seja, a cada 10 lojas abertas, seis (60,8%) fecham as portas no Brasil, segundo reportagem da Folha de São Paulo.

O levantamento foi feito pela empresa de inteligência geográfica Cortex, que fornece soluções com base em informações geográficas, socioeconômicas e demográficas aliadas a ferramentas de inteligência artificial.

A pesquisa utilizou dados da própria Cortex, da Receita Federal e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Foram analisados CNAEs (Classificação Nacional das Atividades Econômicas) de 22 ramos do varejo, desde atacarejos e supermercados até farmácias e perfumarias, passando por docerias e lojas de variedades.

De acordo com o levantamento, ao longo dos últimos 10 anos, o maior número de empresas abertas foram MEIs (microempreendedores individuais), que responderam por 69% das inaugurações. Já entre as empresas que fecharam as portas, destaque para as microempresas, que responderam por 88% do encerramento de atividades no período.

Falta de planejamento é o principal motivo

O principal motivo para o fechamento é a falta de planejamento para os negócios e a falta de acesso ao crédito, segundo Isabela Albuquerque, gerente de produtos de dados da Cortex. “Existe uma grande facilidade para abertura de empresas, especialmente quando se trata de MEIs e microempresas, mas os empreendedores nem sempre estão preparados para assumir riscos, não contam com reservas de emergência ou sabem operar capital de giro, por exemplo”, diz ela.

Também parte das empresas não conseguiram entrar na ‘revolução digital’ impulsionada pela pandemia, e não organizaram ações como delivery e vendas pelas redes sociais para continuarem competitivas, afirma.

De acordo com o levantamento, o período de maior alta de abertura de empresas foi em 2021, na esteira da pandemia de coronavírus, com 1,48 milhão de empresas inauguradas no ano.

Por outro lado, em meio à crise econômica de 2018, foi registrado o pico de empresas fechadas: 1,14 milhão, o que superou o total de empresas abertas no ano (992 mil).

No acumulado dos oito primeiros meses de 2024, os índices de empresas abertas e fechadas se aproximaram: 792 mil e 576 mil, respectivamente.

Grandes varejistas não são atingidos

O consultor em varejo Alberto Serrentino, sócio da Varese Retail, concorda que a mortalidade das microempresas é enorme. “Existem questões como ausência de estudo adequado, improviso e falta de acesso a capital a um custo compatível com os retornos que o negócio dá”, afirma.

“O dinheiro no Brasil é escasso, é caro e é praticamente inacessível aos pequenos negócios. Muitas vezes falta a noção do quanto é preciso ter de colchão de liquidez e de estrutura de capital, por menor que seja o negócio, a fim de suportar a curva de maturação da operação, com as instabilidades do mercado.”

Segundo o especialista, quando se trata de pequeno varejo, as franquias têm um índice de mortalidade inferior ao dos lojistas independentes, justamente porque o modelo de negócios já vem pronto.

Ainda assim, o abre e fecha de lojas não é algo que impacta as grandes varejistas. Segundo ranking anual das 300 maiores empresas do varejo brasileiro elaborado pela Varese Retail, o saldo líquido vem sendo positivo. “Nessa faixa das empresas que faturam mais de R$ 300 milhões ao ano, se abre mais loja do que se fecha”, diz ele, ressaltando que essas companhias representam 50% do varejo nacional em faturamento.