Em clima de celebração e reflexão, a Beauty Fair Co. promoveu, nesta segunda-feira (3), um encontro exclusivo no Blue Note São Paulo para marcar o Dia do Cabeleireiro. O evento reuniu lideranças das principais marcas de cosméticos profissionais com o propósito de discutir o presente e o futuro da profissão.
Entre os convidados, estiveram:
- Joana Fleury (Country Leader, L’Oréal Professionnel);
- Daniel Bom (Diretor Sênior Comercial, Wella Professionals);
- Guilherme Gonçalves (CMO, Alfaparf);
- Rafaela Raskin (Sócia, Keune);
- Daniel Knopfholz (VP de Novos Negócios, Truss / Grupo Boticário);
- Renato Antunes (CEO, Braé);
- Décio Alcântara (CMO, Itallian Hairtech), e
- Thiago Oliveira (Diretor Comercial, Cadiveu).
Também participaram como convidados especiais Rosângela Barchetta (CEO, Studio W) e Richard Klevenhusen (ABSB), ampliando o olhar sobre os desafios e as oportunidades do setor.
Durante o evento, foram apresentados dados de uma pesquisa realizada com 560 consumidores e profissionais que traça um panorama completo sobre o perfil, os desafios e as oportunidades da categoria. Segundo César Tsukuda, CEO da Beauty Fair Co., “o setor do salão está perdendo atratividade de novos entrantes. Se estamos pensando no futuro, o que estamos fazendo para que novos profissionais queiram entrar nessa carreira?”, provocou ao abrir o evento.
O salão como ponto de virada
Durante sua fala, César Tsukuda apresentou um panorama contundente sobre o momento atual do mercado de beleza profissional, conectando dados, comportamento do consumidor e perspectivas para o futuro da profissão:
- Como o cabeleireiro pode reconquistar sua autoridade diante dos influenciadores digitais?
- Quais habilidades serão essenciais para se manter relevante em um mercado em transição?
- E como atrair novos talentos e preparar o futuro dessa profissão tão simbólica?
Essas foram as perguntas que ecoaram ao longo do bate-papo com os líderes da indústria da beleza, e que começam a redesenhar o protagonismo do cabeleireiro brasileiro.
Segundo ele, o que os clientes mais esperam hoje é um atendimento proativo, que vá além da técnica. “O consumidor quer ser ouvido e compreendido. Ele busca um profissional que entenda seu estilo de vida, e não apenas o tipo de corte ou cor que deseja”, destacou.
Um dos pontos que mais gerou debate foi o impacto das redes sociais e dos influenciadores digitais na relação entre cabeleireiros e clientes. “Precisamos aprender a separar influenciador de educador. Aqui, temos uma mistura perigosa, que está deixando a parte técnica um pouco de lado. E como podemos solucionar isso?”, provocou.
César destacou que os influenciadores conquistaram espaço e poder de comunicação, mas isso não significa que o cabeleireiro tenha perdido autoridade. “O cabeleireiro não perdeu autoridade, mas perdeu o brilho na forma de se comunicar, a partir do momento em que os influenciadores passaram a se comunicar melhor com o público. O desafio é melhorar a capacidade de comunicação do profissional de salão”, reforçou.
Outro ponto levantado foi o comportamento da Geração Z, que representa ao mesmo tempo um desafio e uma oportunidade para o setor. “É uma geração que não quer passar cinco horas no salão. Apesar de extremamente fiel ao cabeleireiro, ela é cada vez mais influenciada pelas avaliações nas redes sociais. O digital é parte da decisão de consumo”, observou.
Diagnóstico dos Salões e Profissão Cabeleireiro

Ao abordar as lições do pós-pandemia, o CEO destacou que o ambiente está propício para parcerias e especializações complementares. “Antes, tínhamos o cabeleireiro generalista, que sabia fazer de tudo: corte, cor, penteado. Hoje, existe uma superespecialização em trânsito, e a grande oportunidade é aprender a trabalhar isso de forma colaborativa. O mercado é cíclico e, no fim, quem dita o ritmo é a consumidora”, afirmou.
César também chamou atenção para o desinteresse de novos entrantes na profissão. “O que mais me preocupa é ver o setor perdendo atratividade. Se estamos pensando no futuro, o que estamos fazendo para que novos profissionais queiram entrar nesse mercado?”, questionou.
A tecnologia foi outro tema em destaque, especialmente a chegada da inteligência artificial nos salões de beleza. “Muito pouco se sabe sobre IA sob a ótica dos donos de salão. Mas é inegável que ela já é realidade. A questão é: estamos usando para as coisas certas?”, pontuou.
Para ele, a experiência do cliente é o novo diferencial competitivo. “O salão é o grande ponto de encontro do mercado de beleza e saúde. Estamos falando de bem-estar, de autocuidado. O foco precisa ser o serviço, mas também o acolhimento, a beleza precisa se aproximar cada vez mais do bem-estar”, reforçou.
Os dados apresentados reforçam as expectativas claras dos consumidores: atendimento proativo, facilidade de agendamento e resultados rápidos. A Geração Z se mostra fiel, mas exigente, demanda agilidade, praticidade e é fortemente influenciada por avaliações online.
César finalizou destacando a importância de resgatar a essência técnica e colaborativa do setor em meio à explosão de novas marcas impulsionadas pelas redes sociais. “O consumidor confia mais no cabeleireiro do que no influenciador. Precisamos separar influenciador de educador. O digital está deixando a parte técnica em segundo plano”, concluiu.
O retrato do cabeleireiro brasileiro

Durante o encontro, Joana Fleury (Country Leader) da L’Oréal Professionnel apresentou a pesquisa “O Futuro do Cabeleireiro no Brasil”, encomendada pela L’Oréal Professionnel e conduzida pelo Instituto Provokers, trouxe à luz um panorama profundo e inédito sobre quem é – e o que move – o profissional da beleza no país. Dividido em quatro pilares, o estudo mergulhou nas jornadas, desafios e aspirações dessa categoria essencial:
1- “Estudei enquanto eles dormiam”,
2- “As dores e as delícias da profissão”,
3- “Inclusão e igualdade” e
4- “O que podemos fazer”.
De acordo com Joana Fleury, a pesquisa revelou a diversidade de caminhos que levam à profissão: “46% dos entrevistados escolheram ser cabeleireiros, enquanto 48% afirmam que foi uma oportunidade que apareceu. Mas o dado mais importante é que 74% precisaram se capacitar ao longo do caminho”, destacou. “Essa não é uma profissão para aventureiros. Você pode até começar por acaso, mas para chegar lá, precisa estudar, treinar e se dedicar.”
O dado reforça a urgência da formação técnica e contínua, algo que o mercado ainda precisa estruturar melhor. “Enquanto 74% defendem que é preciso estudar para entrar na profissão, 69% esperam que as indústrias sejam responsáveis por oferecer essa capacitação. Isso mostra uma responsabilidade muito grande do setor em apoiar o desenvolvimento desses profissionais”, pontuou Joana.
No que diz respeito às condições de trabalho, o levantamento mostrou que 40% atuam como autônomos, 20% de forma informal e apenas 24% possuem vínculo CLT, um retrato que evidencia a necessidade de políticas e iniciativas que tragam mais segurança e valorização à categoria.
A diversidade também é um traço marcante da profissão: 62% se identificam como mulheres, 30% como homens cis e 9% como pessoas trans, uma representatividade 5% maior do que a média da população brasileira. No entanto, a equidade ainda é um desafio. “Apesar de refletir a pluralidade da sociedade, o setor ainda reproduz desigualdades salariais entre grupos”, observou Joana.
Mesmo diante das adversidades, a paixão segue como o grande combustível: 87% dos cabeleireiros afirmam querer continuar na profissão, movidos pelo prazer e propósito no que fazem. Dentre eles, 42% desejam ampliar seus negócios ou abrir novos espaços, mostrando que o futuro é visto com otimismo e desejo de crescimento.
Ao final, a Country Leader da L’Oréal Professionnel, deixou três provocações essenciais para o setor:
1- Como as empresas podem abraçar a educação de forma mais ampla e estruturada?
2- Como promover o protagonismo e dar voz a mulheres, pessoas periféricas e negras que já compõem a maioria da categoria?
3- Como co-construir uma frente de respeito e visibilidade, mostrando às novas gerações a beleza e o legado dessa profissão?
“Se existe tanta história e tanta beleza nesse ofício, por que os jovens não sabem disso?”, questionou Joana, encerrando sua fala com o convite para repensar o presente e construir, juntos, o futuro do cabeleireiro brasileiro.
Educação como motor de transformação
A formação profissional foi apontada como o ponto de partida para fortalecer o setor. Rosângela Barchetta, CEO do Studio W, defendeu que o desenvolvimento do salão começa por uma mudança de mentalidade: “O profissional não é só técnica, é mentalidade. A indústria pode e deve ajudar na formação e na mentalidade do cabeleireiro.”
Rosângela reforçou ainda a importância de dados de gestão e de uma agenda comum entre indústria e donos de salão para sustentar o crescimento do setor.
Rafaela Raskin, sócia da Keune, destacou o potencial transformador da educação nas comunidades e o desafio do acesso à formação:
“É muito difícil trabalhar com educação no Brasil. A profissão é linda, e há muito interesse em quem quer começar. O problema é a falta de acesso. Tenho 20 anos de profissão e, depois da pandemia, vi uma mudança enorme: muita gente quer entrar por escolha, não por falta dela.”
Para ela, a certificação profissional e a inclusão educacional são caminhos essenciais para ampliar oportunidades e revelar novos talentos: “Nós fazemos muito trabalho comunitário e é inspirador ver a diferença entre quem tem oportunidade e quem não tem. Quando o ensino chega à comunidade, a transformação é real.”
Dados, gestão e mentalidade de negócio

O olhar estratégico sobre o salão como negócio e espaço de dados ganhou destaque nas falas dos executivos. Rosângela Barchetta defendeu que o setor precisa agir com base em informação e empreendedorismo, e não apenas na prática técnica. “Precisamos pensar em cima de dados e olhar para o salão de beleza – e para o profissional – como um negócio também. O grande problema hoje é a mão de obra, e a indústria pode nos ajudar na educação. O profissional não é só técnica, é também mentalidade e cultura. Essa deve ser a principal luta dos donos de salões hoje, porque não temos apoio governamental nem institucional.”
Já Daniel Knopfholz, VP de Novos Negócios do Grupo Boticário e responsável pela Truss, reforçou que o salão é o único canal capaz de cobrar valor premium, e que o consumidor deve ser o norte de toda decisão: “Quem dita a regra é o cliente. As marcas precisam perseguir o cliente, e não o canal.” O executivo ainda defende parcerias entre marcas e salões para fortalecer o segmento e investir de forma colaborativa em educação.
Rosângela concluiu reforçando a importância de a indústria se aproximar dos salões por meio da educação: “O que as marcas podem fazer pela formação desses profissionais? As soluções de mercado passam pelo educacional. É ter dados, entender o cliente e mudar mentalidade.”
Regulamentação e o papel coletivo da indústria
A regulamentação da profissão surgiu como um ponto de união entre os líderes.
Executivo de uma empresa nacional voltada às classes C e D, defendeu que a formalização e a valorização da categoria precisam ser tratadas como uma causa coletiva:
“Regulamentar a profissão é algo que podemos trabalhar juntos. A educação é o que cria valor e propósito para a marca, por isso criamos um comitê de educação que inclui comercial e marketing. É uma causa que não pode ficar só no departamento educacional.”
Ele ainda destacou o desafio de alcançar o profissional de base: “Nosso desafio é estar mais presente nesse cabeleireiro, que muitas vezes está distante das marcas. O canal de vendas não é suficiente. A conexão precisa vir pela educação.”
Valorização da carreira e novos caminhos de entrada
Para Guilherme Gonçalves, CMO da Alfaparf, o mercado vive uma fase de expansão e multiplicação de canais, mas é essencial manter o cabeleireiro no centro do ecossistema:
“É importante que as marcas estejam em diferentes canais, mas nenhuma pode se afastar do cabeleireiro. Ele é o centro de tudo. O problema é que não há uma trilha clara de desenvolvimento para quem entra na profissão. Existe glamour nas redes sociais, mas o caminho real dentro do salão ainda é desafiador.”
Ele observou que o glamour digital vem atraindo novos olhares para a profissão, mas a estrutura de entrada e crescimento ainda carece de clareza e apoio.
Renato Antunes, CEO da Braé, resumiu a essência do ofício: “O cabeleireiro precisa entender que ele não faz cabelo, ele transforma vidas. E precisamos mostrar isso pra ele.”
Já Daniel Bom, diretor sênior comercial da Wella Professionals, reforçou o valor social e econômico da categoria:
“Existe uma parte estigmatizada do mercado, mas também há histórias lindas. O cabeleireiro ganha, em média, três vezes mais do que a renda nacional. É uma carreira acessível, mas que exige profissionalização. Não é só talento, é técnica, educação e dedicação.”
Daniel sugeriu uma campanha institucional conjunta para valorizar o cabeleireiro como carreira e inspirar novas gerações: “Precisamos apoiar uma comunicação que conte histórias reais de sucesso e mostre como esse profissional pode chegar lá.”
Formalização e educação continuada
A formalização surgiu como um ponto de convergência entre os líderes. Thiago Oliveira, diretor comercial da Cadiveu, apontou a informalidade como o maior entrave à qualificação: “Nosso maior desafio é a formalização. A cadeia é imensa e, por ser informal, não conseguimos ter acesso aos profissionais para qualificá-los. Se conseguirmos, por meio de uma campanha, que eles se formalizem, o setor inteiro avança.”
Ele defendeu o olhar da indústria para a base: “Queremos sempre trazer o profissional de início de carreira. Conseguir equilibrar esse relacionamento com o profissional é a grande virada de chave. Aproximar é o que vai mover o futuro da beleza.”
Já Décio Alcântara, CMO da Itallian Hairtech, ressaltou a necessidade de um comitê permanente de educação entre os times de marketing e comercial: “Precisamos democratizar o acesso à formação e apoiar os profissionais das classes C e D. A educação precisa ser contínua e acessível.”
Dados e inteligência de mercado: o próximo passo
Encerrando o encontro, Richard Klevenhusen, da Associação Brasileira dos Salões de Beleza (ABSB), apresentou um projeto inovador de monitoramento mensal dos salões com uso de inteligência artificial, que permitirá gerar dados confiáveis sobre crescimento, ticket médio e revenda:
“Hoje, os salões de beleza não têm dados concretos. Não sabemos quanto cresceram em corte, coloração, manicure ou revenda. Estamos desenvolvendo um sistema de gestão com inteligência artificial e, no próximo ano, lançaremos a primeira pesquisa mensal dos salões.”
Richard também anunciou um projeto audiovisual voltado à valorização da profissão:
“Queremos trazer o audiovisual para dentro da beleza. Tudo o que o audiovisual fez pela gastronomia, agora vai fazer pela nossa área. Vamos lançar um documentário mostrando a realização pessoal e profissional de quem se torna cabeleireiro.”
Ele encerrou com uma reflexão sobre o impacto da beleza e o papel social do cabeleireiro:
“Precisamos exaltar o profissional de beleza e torná-lo atrativo, com histórias reais, próximas da realidade. Beleza não é banalidade. Quando uma pessoa se sente bela, ela melhora o olhar sobre si mesma. Olha o poder que esse profissional tem.”
Diversidade e inclusão: a nova agenda da indústria
Encerrando o debate, Joana Fleury reforçou a necessidade de o setor se posicionar de forma intencional diante das transformações sociais:
“A diversidade é um tema forte na sociedade, e a indústria pode – e deve – se posicionar. Valorizar diferentes perfis de profissionais e consumidores é uma oportunidade real de evolução.”
Um consenso entre líderes
O encontro da Beauty Fair Co. deixou claro que o futuro do salão de beleza no Brasil passa por três pilares indissociáveis: educação acessível, formalização da categoria e valorização do profissional como agente de transformação.
Mais do que técnica, o que move o setor é mentalidade, propósito e união entre indústria e salões, ingredientes essenciais para garantir a atratividade dessa profissão que transforma vidas todos os dias.
