O mercado de cosmético brasileiro tem enorme potencial, internacionalmente falando, já que é o quarto maior mercado consumidor mundial, com uma oferta diferenciada de produtos de qualidade e que são competitivos dentro e fora do Brasil.
O reconhecimento pelo mercado internacional vem em decorrência da qualidade dos produtos, que possuem diferenciais de inovação, tecnologia e por serem desenvolvidos a partir da biodiversidade brasileira.
Tudo isso faz com que o Brasil se torne referência em algumas categorias de produtos e seja um verdadeiro destaque para conquistar ainda mais consumidores pelo mundo.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), por meio de análises feitas pelo projeto setorial Beautycare Brazil, os compradores internacionais buscam majoritariamente cosmético brasileiro para o cabelo, especialmente os alisantes, que é um dos produtos desta categoria que o Brasil já se consolidou como referência no mercado, pela qualidade, segurança e resultados.
No entanto, é importante destacar que essa é uma das categorias fabricadas por indústrias brasileiras, que acabam abrindo as portas, mas que diversas outras categorias vêm ganhando cada vez mais espaço, como produtos para manicuros e pedicuros, desodorantes e perfumaria, entre outros.
Para o diretor geral da Beauty Fair, Cesar Tsukuda, os compradores analisam as empresas sob duas perspectivas. “A primeira é de cunho mais operacional. Avaliam a capacidade de atendimento ao mercado internacional, inclusive seguindo regras tributárias, preço e embalagem. A segunda é algo intangível, mas fundamental, inovação.”
O grande diferencial do Brasil está na biodiversidade rica, que proporciona uma série de novos ingredientes e matérias-primas para produtos inovadores, além de contar também com uma grande miscigenação do seu povo.
“Aqui encontramos diferentes tipos de texturas e cores de peles e cabelos, o que torna o País um grande laboratório de inovação para o mercado de higiene e beleza como um todo. Toda essa variedade ocorre ainda em regiões do Brasil com climas totalmente distintos, que vão do calor ao frio extremo, em diferentes períodos do ano”, diz a Abihpec.
Tsukuda complementa: “O Brasil tem uma grande vantagem, que apesar de ter dimensões continentais, somos um mercado heterogêneo e isso exige do fabricante uma visão ampla sobre a diversidade de belezas e necessidades existentes em nosso País, fazendo com que a inovação seja mandatória para a sobrevivência no mercado de beleza. No final do dia, o importador quer exatamente isso, levar algo inovador para o seu país, com diferenciais claros de ingredientes, embalagem e comunicação.”
Um Brasil de vantagens
O professor de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Sillas de Souza Cezar, enumera ainda outros fatores que colocam o Brasil em vantagem, veja a seguir:
- País numeroso: o mercado consolidado, bem como o potencial de crescimento no Brasil é muito significativo, uma vez que somos um país com dimensões continentais.
- Maior consumo do que a média mundial: em média, brasileiros estão entre os povos que mais gastam com cosméticos. Na América Latina, somos os maiores consumidores.
- Elasticidade-preço da demanda é baixa: em outros termos, o brasileiro é menos sensível aos aumentos de preços dos cosméticos, pois diferente da média mundial, ele não considera esses produtos tão “supérfluos” assim.
- Mercado mais diversificado: diferente de outros mercados onde algumas marcas dominam o cenário, no Brasil há espaço para empresas menores, sejam as mais nichadas ou mesmo as que trabalham com produtos comuns, mas com preços mais baixos.
- Aberto a novidades: os brasileiros aceitam marcas novas de uma maneira não tão comum no resto do mundo, e um bom exemplo disso é o crescimento dos produtos veganos nos últimos anos. Em geral, produtos “novos” no Brasil são mais bem vendidos do que em outros lugares do mundo.
“Sozinhos, representamos 50% do mercado de toda a América Latina. Só por isso, já somos interessantes aos investidores. Mas além disso, temos todas as questões destacadas acima, que fazem nosso mercado ser atrativo ao capital estrangeiro. No entanto, devemos destacar outros pontos qualitativos. Há no Brasil tecnologia cosmética de ponta, reconhecida internacionalmente na ponta do consumo. Um bom exemplo é a ‘fama’ dos produtos para cabelo e para as unhas nos salões de beleza, pequenos e grandes, ao redor do mundo. Esses salões vendem a presença de profissionais e de produtos com diferenciais”, comenta o professor.
Dados que merecem destaque
Os números da balança comercial do setor brasileiro de HPPC fecharam o ano de 2021 apontando uma corrente de comércio de US$ 1,4 bilhão, representando aumento de 16,2%, sobre 2020, quando foi de US$ 1,2 bilhão. Já as exportações alcançaram o valor de US$ 700 milhões em 2021, crescimento de 14,9% em relação ao ano anterior (US$ 609,3 milhões).
Em 2021, o Brasil exportou produtos de HPPC para 173 países. Os vizinhos da América Latina são os principais parceiros comerciais, liderados pela Argentina. Chama a atenção o aumento de exportações no último ano para outros países da região, como Chile e México.
Neste ano, o setor apresentou um crescimento de 8,5% na corrente de comércio do consolidado de janeiro a setembro de 2022 em relação ao mesmo período do ano passado. O percentual representa a cifra de US$ 1,14 bilhão, e um saldo comercial superavitário no valor de US$ 38,2 milhões, revertendo o déficit registrado no mesmo período de 2021 (US$ -14.4 milhões).
A alta das exportações do período foi de 13,7%, um crescimento que representa o valor de US$ 588,3 milhões.
Cosmético brasileiro: o que está por vir
O futuro do mercado de exportação de cosmético brasileiro mora na inovação e na incessante busca por diferenciação.
Tsukuda lembra da Coreia, que hoje é um case do mercado de beleza internacional, fomentando negócios em torno do conceito de K-Beauty, que transformou o segmento de skincare. “Especialistas ousam dizer que a indústria de beleza do país está geralmente dez ou 12 anos à frente do resto do mundo. O que falta para o Brasil se tornar uma nova Coreia é envelopar, criar um conceito único para o cosmético brasileiro.”
Em maio de 2023, a Beauty Fair quer dar sua primeira contribuição no campo de inovação. O projeto Beauty Innovation vai levar executivos da indústria nacional para uma imersão em dois países que são referências mundiais em inovação: Dubai e Coreia.
“A pandemia colocou o mercado de beleza 10 anos a frente, no entanto, o conhecimento da indústria a respeito de inovação não caminhou metade disso. Participar de uma imersão guiada, com especialistas no setor, irá preparar a liderança das empresas para o que está por vir, acelerando essa agenda estratégica nas indústrias”, argumenta o executivo.