Estive recentemente em uma missão internacional do varejo ao Vale do Silício, organizada pela Beauty Fair, com curadoria da StartSe, com mais de 100 executivos do mercado de beleza.
Durante cinco dias, conhecemos de perto como startups e empresas grandes estão moldando o futuro dos negócios. E a lição foi clara: para prosperar, é preciso repensar a maneira como gerimos nossos negócios. O conceito de empresas ambidestras, provocado pelos especialistas Fábio Neto e Pietro Franceschi, foi um dos mais marcantes para mim — e um que todo dono de salão de beleza precisa compreender.
O que significa ser ambidestro na gestão de salão?
Uma gestão ambidestra equilibra duas frentes essenciais:
1. A excelência do hoje (explotação): otimizar processos existentes, como atendimento ao cliente, controle de estoque e treinamento da equipe.
2. A construção do amanhã (exploração): investir em inovação e buscar novas oportunidades para se diferenciar no mercado.
No setor de salões de beleza, a maioria ainda está presa na “bolha do presente”. Enquanto garantimos que os serviços tradicionais sejam entregues com qualidade, muitas vezes esquecemos de olhar para o que está por vir. Isso é perigoso. A falta de inovação nos deixa vulneráveis a mudanças que podem virar o jogo do mercado.
Sair da bolha e olhar para outros setores
Uma das reflexões mais importantes que trouxe dessa missão foi a necessidade de buscar referências fora do setor de beleza. Afinal, o cliente não enxerga barreiras entre segmentos — ele vive experiências.
Pense em como a indústria farmacêutica, ao lançar o Ozempic, um medicamento para controle de diabetes e emagrecimento, impactou não só o setor da saúde, mas também mercados como o de fast food e beleza. O aumento no uso do medicamento levou à queda no consumo de alimentos ultraprocessados e impulsionou novos serviços estéticos relacionados à perda de peso. Isso mostra que a inovação em um setor pode alterar radicalmente o comportamento do consumidor em outro.
Inovação: mais sobre atitude, menos sobre estrutura
Uma das armadilhas comuns no discurso de inovação é acreditar que basta criar um “departamento de inovação” ou forçar toda a equipe a “pensar fora da caixa”. Isso não funciona. A inovação começa com pessoas que pensam com a cabeça do dono e pequenos experimentos no dia a dia.
Durante a missão ao Vale do Silício, ouvimos o exemplo de um gerente de uma loja de eletrodomésticos que transformou vendas simplesmente prestando atenção aos clientes. Ele percebeu que quem comprava adegas de vinho frequentemente perguntava onde encontrar uma loja de vinhos próxima. Com essa percepção, decidiu experimentar algo simples: vender as adegas com vinhos. O resultado? Um salto nas vendas. Isso é inovação — enxergar problemas reais e testar soluções rapidamente.
No setor de salões de beleza, que ainda tem mais da metade dos negócios na informalidade e muitos sequer utilizam ferramentas básicas de tecnologia, como sistemas de agendamento online, o desafio é enorme. Mas é também uma oportunidade gigantesca.
Comece pelo simples e use a tecnologia como aliada
Se você é dono de um salão, inove começando pelo básico:
• Implante um sistema simples de gestão para organizar sua agenda e clientes.
• Experimente novos serviços ou pacotes, como incluir produtos de beleza junto aos serviços.
• Teste ferramentas de inteligência artificial para personalizar ofertas ou criar campanhas de marketing.
A inovação não precisa ser complexa. Ela está nos pequenos passos que resolvem problemas do cliente e ajudam seu salão a se diferenciar.
A importância da gestão ambidestra para o futuro dos salões
No mercado de salões, o equilíbrio entre a eficiência do presente e a construção do futuro é indispensável. Enquanto você otimiza os serviços tradicionais, deve também investir tempo e energia para captar sinais do mercado e testar novas ideias.
Olhe além do segmento de beleza, use tecnologia para transformar sua gestão e não tenha medo de errar em pequenos experimentos. A gestão ambidestra é o caminho para que salões de beleza não fiquem presos no passado, mas sim liderem o futuro do setor. Afinal, o cliente está mudando — e a gestão de salões precisa mudar com ele.