O amor que molda vidas: uma homenagem às mães dos salões de beleza

Em seu primeiro artigo, Beto Pontes conta os bastidores de ser filho de uma mãe cabeleireira e como ela moldou seu futuro dentro do mercado.

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Beto Pontes

Por Beto Pontes

Beto Pontes é CEO de um conglomerado que engloba três marcas: Amanda Beauty Beauty (2 unidades), Espaço Amanda (4 unidades) e Barbearia Procópio (4 unidades) localizados no Estado do Amazonas. Amanda Beauty já foi reconhecido pelo Beauty Salons to Watch, da Beauty Fair, três anos seguidos, por prestar um serviço de excelência em sua região há mais de 50 anos.

Publicado em 09/05/2025 Atualizado: 09/05/2025 às 17:10

Aumentam muito as chances de sucesso de um salão de beleza quando as pessoas envolvidas, especialmente o líder, estão bem de saúde física e emocional. E se o setor da beleza é composto majoritariamente por mulheres — cerca de 70% — e, dessas, grande parte são mães, então uma pergunta ecoa forte nos bastidores dos salões: “Estou sendo uma boa mãe?”.

Não há missão mais desafiadora na vida. E nenhuma que traga tanta felicidade quanto ver um filho crescendo com amor e educação. Nada substitui uma mãe em sua plenitude. O amor de mãe é o que mais se aproxima do amor de Deus por nós.

Meu nome é Beto Pontes. Tenho 43 anos, sou filho único de uma cabeleireira. Senti na pele as dores e os prazeres que essa profissão entrega a uma mãe. Quase nasci dentro de um salão. Fui amamentado entre um corte e outro. Cresci vendo minha mãe trabalhar longas horas, quase sempre sendo os últimos a chegar nos encontros de família. Mas também vi uma mulher conquistar independência financeira, realizar sonhos, ser reconhecida, deixar um legado e ter plena consciência do seu valor — como profissional e como ser humano. Seu sorriso e demonstração de amor pelo que fazia, eram contagiantes.

Por isso, escolhi dedicar meu primeiro texto para o portal Negócios de Beleza a essa mulher: Amanda Procópio. Uma cabeleireira. Uma mãe. E, acima de tudo, um exemplo. Que minha história possa tocar e inspirar outras mães que hoje vivem essa mesma dúvida no coração.

Amanda começou sua trajetória aos 15 anos, atendendo na sala da própria casa, logo após perder a mãe. A necessidade de sustentar seus seis irmãos foi o que a impulsionou. Mas logo ficou claro que ela tinha dois grandes talentos: a habilidade de se conectar genuinamente com as pessoas, a disciplina e dedicação para aprender e aplicar com excelência.

Com esses pilares, o apoio dos irmãos e principalmente das irmãs Cecy e Regina, o salão cresceu. Tornou-se referência em Manaus através de uma frequente capacitação profissional, criando uma clientela cada vez mais exigente e fiel se tornaram rotina. Foi nesse momento que ela começou a sonhar em formar uma família.

Namorou um médico, mas quando ele precisou sair da cidade para uma especialização, ela optou por não abandonar sua carreira para acompanhá-lo. Um tempo depois, conheceu Luiz, natural de outra cidade, que trabalhava com frutos do mar. Aos 28 anos, Amanda engravidou. E, mesmo com dúvidas, decidiu se casar — talvez buscando o ideal de família.

Mas o relacionamento não estava maduro. Os conflitos se intensificaram e a separação foi inevitável. Eu tinha pouco mais de um ano. Amanda seguiu sozinha com a minha guarda, e meu pai retornou para sua cidade. Nunca mais tive contato com ele.

Amanda manteve-se firme. Trabalhando muito, focada na minha educação. Eu passava os dias com a tia dela, a quem chamo de vó, depois em creches, escolas e atividades esportivas. Desde cedo aprendi a ser responsável, a lidar com a solidão e a valorizar o tempo.

Aos 8 anos, já passava horas esperando por ela no salão ou sozinho em casa. Aos 14, comecei a trabalhar na recepção. Meu papel era simples: atender o telefone, fazer agendamentos e receber pagamentos de clientes. Ou pelo menos, era o que eu pensava. Só anos depois percebi que minha mãe estava me ensinando, com sutileza, o valor do trabalho digno e honesto.

Na adolescência, tivemos conversas profundas. Amanda era firme, mas sempre amorosa. Preocupava-se com minhas amizades, com meus relacionamentos. Lembro de uma vez em que ela me chamou atenção, como nunca tinha chamado, para que eu me afastasse de uma pessoa que eu achava ser meu amigo. Ela viu o que eu ainda não enxergava. E lembro de uma de suas frases mais marcantes: “Quando você crescer, nunca vou me meter na sua vida. Só se você se meter com uma mulher que não presta. “Com humor e firmeza, ela sempre plantava valores.

Aos 16 anos, fui morar fora, em busca do sonho de ser tenista profissional. Sete meses depois voltei a Manaus. Aos 18, queria abrir uma distribuidora de cosméticos. Amanda me emancipou. Aos 20, abri uma nova empresa com um amigo — ela foi contra, mas respeitou minha escolha. A sociedade não deu certo. E mesmo tendo razão, ela nunca disse “eu te avisei”. O apoio incondicional dela foi imprescindível para resolver.

Aos 23, vendi a empresa. Foi quando descobri que Amanda havia feito uma promessa: quando eu encerrasse esse ciclo, iríamos juntos a Aparecida, rezar uma missa inteira de joelhos. E assim fizemos. Depois disso, voltei a atuar na gestão do salão e retomei a faculdade de Administração. Estava pronto para trilhar novos caminhos. Mas no dia 5 de dezembro de 2005, Amanda faleceu repentinamente. Eu tinha apenas 24 anos e ela com 53.

Foi só então que tudo fez sentido. Todas as conversas, os gestos, os ensinamento e os exemplos — o jeito como ela me criou. Amanda não foi apenas uma excelente mãe. Ela me deu alicerces sólidos para eu ser quem eu quisesse ser. E isso, sem dúvida, foi o maior êxito da vida dela.

Que esse depoimento chegue ao coração de todas as mães que trabalham incansavelmente nos salões de beleza do Brasil. Que vocês sintam, em cada palavra, o reconhecimento e a admiração por tudo que fazem — principalmente por seus filhos. Sim, vocês estão sendo grandes mães! E o tempo mostrará isso com clareza.

Com carinho,
Beto Pontes – Filho da Amanda Procópio.