O poder do cabelo da candidata à presidência dos EUA, Kamala Harris

O poder do cabelo da candidata à presidência dos EUA, Kamala Harris

A forma franca sobre como a política falou sobre a rotina de cuidados com seus fios crespos repercutiu com força entre o eleitorado feminino negro.

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Por Redação em 16/09/2024 Atualizado: 16/09/2024 às 08:01

Não são só o sorriso largo e o estilo despojado de Kamala Harris que têm chamado a atenção do eleitorado, mas também a franqueza que ela tem usado para falar sobre sua rotina de cuidados com os cabelos – sempre perfeitamente alinhados. Ela disse que sofre, sim, para modelar seu crespo e, por isso, apela para a escova, deixando-o liso; ritual que precisa repetir cerca de quatro vezes por semana. A confissão viralizou e bateu forte entre as mulheres negras de tal modo que quando a política foi anunciada oficialmente como candidata em 5 de agosto as pesquisas por ‘cabelo de Kamala Harris’ aumentaram 33% no Google. O TikTok também foi agitado, com várias influencers negras usando o áudio de Kamala Harris para fazer vídeos ensinando o ritual de escovação da candidata.

Para quem acha que é muito barulho por nada. Vale saber que, ao contrário do Brasil, nos Estados Unidos o cabelo crespo ainda é negligenciado por inúmeras marcas e sub representado na mídia – isso mesmo com cerca de 65% da população se identificando com o cabelo crespo. Esse cenário é reforçado pelos dados de um relatório feito pela Dove e pelo LinkedIn, que revelou que o cabelo das mulheres negras têm quase três vezes mais probabilidades de ser percebido como pouco profissional e que essas mulheres têm 54% mais chances de sentirem que precisam usar os fios lisos em uma entrevista de emprego para terem sucesso. Tal realidade e o preconceito que adultas e também as meninas negras enfrentam contribuem para o aumento dos penteados lisos e alisados nos EUA.

Saber cuidar dos crespos vira lei

Voltando para Kamala Harris, o que se tem dito é que se ela escolhesse usar os fios ao natural a controvérsia não viria das mulheres negras, mas de outras pessoas. Por isso é que tanta gente passou a defender a promulgação em todos os 50 Estados norte-americanos do CROWN Act, criado em 2021 para proibir a discriminação de cabelos com base na raça.

Louisiana foi o primeiro Estado a adotar esse projeto de lei, que exige que todos os cosmetologistas recebam educação sobre cabelos crespos. A expectativa é que com a legislação e o movimento que vem se criando em torno da narrativa e da educação, as marcas de beleza e a mídia também comecem a mudar. “Negras não fazem parte da conversa sobre beleza há muito tempo. Por isso tem sido fortalecedor e maravilhoso ver uma mulher de cor sendo celebrada. Na minha profissão, me disseram que o meu cabelo é uma distração. É por isso que a representação é tão importante”, disse à Glossy Tia Mowry, atriz e fundadora da marca de cuidados com cabelos crespos 4U by Tia. Que esse seja realmente o começo de uma necessária mudança que os cabeleireiros e as marcas do Brasil vêm fazendo escola há tempos.