“O empreendedorismo mora na intuição”, diz CEO da People Colour

Patrícia Lima, que também fundou a Simple Organic, fala dos desafios de criar uma marca e sobre a importância de ter acesso a mentorias femininas.

7 minutos de leitura

Imagem: Divulgação
Por Shâmia Salem em 27/03/2025 Atualizado: 27/03/2025 às 15:01
Com pouco tempo? Experimente o resumo automático.

Seis anos após a criação da Simple Organic, adquirida pela Hypera Pharma, Patrícia Lima lançou a People Colour, uma nova marca de beleza que visa democratizar produtos sustentáveis. Com um cronograma intenso de lançamentos e eventos que alcançaram mais de 130 mil pessoas, a People Colour se diferencia por sua identidade própria, focando nas gerações mais jovens e mantendo os valores de limpeza e sustentabilidade. Apesar das dificuldades no competitivo mercado de beleza, Patrícia destaca a inovação como um motor para o sucesso, enfatizando a importância da transparência e do compromisso com a segurança dos produtos, especialmente em um cenário onde os consumidores estão cada vez mais exigentes. A marca já está disponível em várias redes de farmácias e e-commerces, facilitando o acesso dos consumidores a produtos limpos e conscientes.

Resumo supervisionado por jornalista.

Seis anos depois de revolucionar o mercado de beleza limpa no Brasil com a criação de Simple Organic, que foi adquirida pela Hypera Pharma, uma das principais empresas farmacêuticas do país, a CEO Patrícia Lima embarcou no ano passado em uma nova jornada ao fundar a People Colour. “É uma marca que já chega grande, diferente de Simple, que nasceu pequenininha. Fizemos um primeiro evento no Rio de Janeiro para apresentar a People Colour para nossa comunidade e, em fevereiro, realizamos um encontro em São Paulo. Foram dois termômetros super positivos. Alguns números que podemos citar dessas experiências: alcançamos mais de 130 mil pessoas, 67 horas de tempo de tela (quase 3 dias de conteúdos nas redes sociais de maneira espontânea) e mais de 50 milhões de retorno com essa exposição. Quanto aos lançamentos, temos um cronograma intenso de novidades que estão por vir, como perfume de cabelo, blushes e contornos labiais”, adianta a empresária, que fala da experiência de desenvolver marcas e produtos num mercado tão competitivo e competente como o do Brasil e da potência de ser mulher no setor de beleza; confira. 

Como surgiu o desejo de criar uma marca e qual foi o ponto de virada para realmente tirar a ideia do papel?  

Na verdade, sempre tivemos o desejo de explorar novas ideias, formatos de marca e linguagens, além de desenvolver novos produtos. Dentro da Simple Organic, sabíamos que poderíamos expandir, mas percebemos que a marca já possuía um portfólio bastante amplo, com linhas essenciais como kids, suplementos, sólidos, home, skincare e bodycare. Com isso, esses novos desejos começaram a surgir não apenas como aspirações, mas também como oportunidades de crescimento e inovação ao longo desses oito anos. O amadurecimento da Simple Organic, o respeito conquistado junto aos dermatologistas e o fortalecimento da nossa comunidade permitiram nos transformar em um grupo (The Simple Company) com a chegada da People Colour, impulsionado pelo desejo de lançar novas marcas limpas. Ampliamos nosso alcance, assumindo o papel de apresentar ao mercado mais uma marca com propósito e impacto positivo. Desde o início, nosso desejo sempre foi democratizar a beleza natural, tornando-a acessível ao maior número de pessoas. Com o nascimento da People Colour, demos um passo ainda maior nessa missão.  

No que a People Colour se diferencia da Simple Organic?  

A People Colour nasceu respaldada pela expertise da Simple Organic, porém, com atuação independente para ampliar a oferta de produtos sustentáveis no segmento de beleza. A People Colour possui regras próprias de limpeza de fórmula, mas com os mesmos valores de Simple. O que uma é diferente da outra? Tudo! Mas, quando a gente olha como Grupo, elas conversam entre si, com os mesmos valores de impacto positivo. People é uma marca que nasce sendo construída pelo público nos próximos 6-8 meses, tendo um super nome nativo digital que é Malu Borges trazendo isso, e focada nas gerações Z, millenials e alpha. A Simple como marca não muda em nada e segue o seu caminho, seu DNA, seus lançamentos para todos os públicos.  

Criar uma segunda marca de beleza é mais fácil?  

Criar uma segunda marca traz, sim, algumas vantagens: já conhecemos o mercado, entendemos o que funciona e temos uma rede de contatos mais sólida. Mas isso não significa que seja fácil. Cada marca tem sua identidade, propósito e desafios. Com a People Colour, por exemplo, apesar de já termos a experiência da Simple Organic, estamos construindo algo novo, com outra proposta e um público diferente. O aprendizado anterior ajuda, mas também exige que a gente se desafie a pensar além do que já foi feito. E quando falamos de investimentos, distribuição e posicionamento, cada marca tem seu próprio caminho a percorrer. Então, se por um lado há atalhos, por outro, há novos desafios que fazem tudo ser tão intenso quanto da primeira vez. 

Em algum momento você se sentiu balançada por criar uma nova marca de beleza diante da concorrência gigantesca que existe no Brasil?  

Nunca encarei a concorrência como um obstáculo, e sim como um estímulo para inovar. O mercado de beleza no Brasil é gigantesco, mas foi exatamente isso que me motivou a criar a People Colour. O segmento de produtos labiais está em alta, mas quem realmente trouxe fórmulas limpas para esse espaço? Essa foi a nossa oportunidade de fazer diferente. Então, mais do que um desafio, criar esta nova marca foi uma forma de reafirmar nosso propósito e expandir o impacto positivo que já construímos com a Simple Organic. 

O que fez você se sentir confiante, potente, e seguir adiante com o seu projeto, sem se deixar abalar pela concorrência que iria encarar?  

O fato de trazer algo para o mercado que ainda não estava sendo explorado. O grande diferencial da People Colour em relação às demais marcas posicionadas no segmento labial está em sua identidade própria, no propósito de levar produtos inovadores para mais pessoas, democratizar o acesso à beleza consciente verdadeira e não o greenwashing que é comumente praticado no mercado, e em seu DNA alinhado aos valores de sustentabilidade e à renovação da indústria. Chegamos para derrubar paradigmas e desafiar os padrões estabelecidos, trazendo um olhar inovador para a beleza. Nosso foco está nas cores, em produtos que acompanham tendências com agilidade, coleções limitadas e, claro, mantendo sempre nosso compromisso com fórmulas limpas e sustentáveis. 

Pode citar os três maiores desafios que você enfrentou pra criar People Colour, que quase a fizeram desistir, e como você conseguiu dar a volta por cima?  

Criar uma nova marca nunca é um caminho simples, mesmo com toda a experiência da Simple Organic. A People Colour nasceu com um propósito muito claro, e o desejo de levar a beleza limpa para o maior número de pessoas não me fez desistir. Muito pelo contrário. Dito isso, um dos grandes desafios foi o fato de que o setor de maquiagem é extremamente tradicional, com fórmulas convencionais dominando as prateleiras. Criar uma marca focada em produtos limpos, sem abrir mão de performance e inovação, exigiu um esforço gigantesco em pesquisa e desenvolvimento. Muitas vezes, ouvimos que não seria possível entregar cor, fixação e tendência com fórmulas seguras. Mas insistimos e mostramos que é possível, sim, revolucionar esse mercado. Um segundo desafio que cito é que a indústria da beleza está estruturada para produções em larga escala com insumos tradicionais. Produzir fórmulas limpas e veganas, dentro dos nossos padrões de qualidade, é um desafio logístico e financeiro. Houve momentos em que os custos pareciam inviáveis, mas resistimos no nosso propósito. Negociamos, buscamos parceiros alinhados com a nossa visão e encontramos caminhos para viabilizar cada produto sem comprometer nossos valores. O terceiro desafio que posso citar é o que de lançar uma nova marca sempre envolve incertezas: será que o público vai entender nossa proposta? Será que conseguimos criar desejo e identificação? Como trazer algo realmente novo? Tínhamos um desafio duplo: manter a essência da Simple Organic, mas ao mesmo tempo criar uma identidade única para a People Colour. A resposta foi apostar em comunicação transparente, em um branding forte e na conexão real com a nossa comunidade. E a aceitação veio justamente porque somos fiéis ao nosso propósito e entregamos produtos inovadores de verdade. Mesmo com esses desafios, nunca deixei de acreditar no impacto que a People Colour pode gerar. E é isso que me move: transformar o mercado, desafiar padrões e entregar beleza de uma forma mais consciente e acessível.  

Principalmente depois do episódio das pomadas capilares serem suspensas pela Anvisa devido aos casos de queimadura e até cegueira, o brasileiro despertou ainda mais para a importância de usar cosméticos seguros. Diante desse consumidor mais informado e exigente, quais foram as suas estratégias para ganhar credibilidade com uma marca recém-chegada?  

A credibilidade de uma marca não se constrói do dia para a noite, ela é resultado de um compromisso real com a segurança, a transparência e a qualidade dos produtos. No caso da People Colour, desde o início adotamos uma abordagem rigorosa com nossas fórmulas, assegurando que todos os produtos fossem limpos, seguros e livres de ingredientes prejudiciais. O episódio das pomadas capilares foi um alerta para todo o setor e reforçou algo que sempre defendemos: a importância da transparência na indústria da beleza. O consumidor hoje quer saber exatamente o que está usando e confia nas marcas que demonstram esse compromisso. Por isso, investimos em comunicação clara, rótulos informativos e um diálogo aberto com nossa comunidade. Além disso, trazemos um diferencial: inovação aliada à responsabilidade. Criamos produtos que acompanham tendências, mas atentos a segurança e a formulação limpa.  

Diante de um consumidor com forte presença digital, ativo na proximidade com a marca, exigindo verdade e reconhecimento, qual a importância do discurso e posicionamento da marca para sobreviver no mercado brasileiro?  

Hoje, mais do que nunca, o consumidor está atento, questionador e exigente por transparência. Ele não quer apenas um produto, mas uma marca com propósito real, que se comunique de forma autêntica e esteja alinhada com seus valores. No Brasil, um mercado tão dinâmico e competitivo, o discurso e o posicionamento da marca não são apenas diferenciais, mas fatores essenciais para a sobrevivência. Na Simple Organic e na People Colour sempre acreditamos na construção de uma relação genuína com nossa comunidade. Não basta falar, é preciso agir – desde a escolha dos ingredientes até a forma como nos posicionamos em pautas sociais e ambientais. As marcas que não entendem essa nova dinâmica acabam perdendo relevância. Por isso, a coerência entre discurso e prática é fundamental para conquistar e manter a confiança desse consumidor tão conectado e exigente.  

Quais os bastidores das negociações para uma marca nova conseguir entrar e se destacar nas prateleiras de perfumarias, lojas, farma, e-commerces etc? 

People pode ser encontrada no seu e-commerce próprio, nas lojas físicas e ecommerce da Simple Organic e nas principais redes do canal farma, como Droga Raia, Drogasil, Drogaria São Paulo, Drogaria Pacheco, Drogaria Venâncio e Panvel de todo o país. Em breve, a Drogaria Araújo também estará abastecida com a marca. O fato de estarmos dentro da estrutura da Hypera Farma facilitou nossa entrada no varejo farmacêutico. A grande capilaridade dessas redes torna o objetivo de levar a beleza limpa para um público ainda maior mais próximo, que é o nosso desejo desde sempre. O espaço físico facilitará o acesso de novos clientes à marca, especialmente aqueles que não costumam comprar online, não conhecem a beleza limpa ou preferem experimentar os produtos pessoalmente antes da compra.  

Aproveitando que estamos no Mês das Mulheres, qual incentivo ou dica você dá para a empreendedora que sonha em ter sua marca própria de beleza?  

O empreendedorismo mora dentro da intuição, naquele feeling que você fala: eu sei que isso pode dar certo, não sei como, mas eu vou fazer. Tem, sim, que se ouvir, ter um feeling muito aguçado e apurado para informações que nem sempre são concretas. Ter acesso a mentorias femininas também faz a diferença para você evoluir, trocar informações e aprender por meio das experiências de outras empreendedoras. Apenas mulheres vão entender o que é ser mulher no mercado de trabalho, tendo outras jornadas acontecendo em paralelo, como questões familiares, de maternidade, a autocobrança exagerada por resultados… Somada as dificuldades de estar em posições de liderança e gestão, com os rótulos e julgamentos que vêm de velhos padrões. Dividir essas preocupações pode ser a chave para uma mudança de mindset.