Varejo

Especialista comenta cenário político e revolução tecnológica para lojistas na Beauty Fair

O filósofo político, professor universitário, articulista e consultor de empresas, Fernando Schüler, apresenta um panorama do cenário político e econômico no Brasil, com destaque para as mudanças tecnológicas.

Por Ligia Favoretto em 21 de setembro de 2022

O setor de beleza cresce exponencialmente porque é o que traz autoestima e qualidade de vida às pessoas. Ele vem sendo revolucionado com novas tecnologias, o que, consequentemente, gera movimento à economia.   

Na abertura do Fórum Beauty Fair do Varejo de Beleza, que aconteceu em 2 de setembro, no Expo Center Norte, o doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) com ênfase em filosofia política, professor universitário, articulista e consultor de empresas, Fernando Schüler, explicou que o mundo vive uma revolução tecnológica, e não se sabe ainda até onde vai. “Daqui a pouco vai entrar o 5G, temos a telemedicina, as cirurgias robóticas, aulas e reuniões à distância. Com isso, conseguimos aumentar a produtividade, fazendo mais coisas que a gente considera essenciais, ou seja, com a economia de tempo, as pessoas conseguiram se dedicar mais àquilo que importa para elas, ganhando qualidade de vida, estética, tudo aquilo que faz a vida valer mais a pena, tudo isso gera crescimento da economia.” 

Entre tantos benefícios que a tecnologia imprime na vida da população, ela também fez com que milhões de pessoas entrassem para o mundo político e passassem a opinar nas redes sociais. Schüler lembra que antigamente era difícil colocar sua voz no mundo, na democracia de uma maneira geral; hoje, o custo caiu a praticamente zero, todo mundo consegue dar a sua opinião, trazendo, inclusive, questões particulares, que muitas vezes são religiosas, éticas, de natureza moral ou até estética, o que antes era restrito somente às instituições, partidos, sindicados e mídia profissional. 

Ele revela que o Brasil tem meio milhão de influenciadores digitais e esse número só cresce. “Para ser considerado um influencer, é preciso ter mais de dez mil conexões e o que diz um influenciador digital? O que dá na telha”, comenta alertando para que as pessoas saibam filtrar o que é consumido nas redes. 

O especialista complementa dizendo ainda: “As pessoas estão com cada vez mais dificuldade de saber o que é real e o que é virtual, mas esse é o mundo que veio para ficar, não vai terminar. O que é positivo, já que há uma curva de aprendizagem. Obviamente isso afeta muito a política, que se radicaliza.” 

Atualmente vive-se a economia da atenção. Schüler diz ser inacreditável que o brasileiro perca em média três horas e meia diárias em redes sociais. “O fato é que ninguém acorda de manhã dizendo assim: ‘vou passar três horas em redes sociais’, trata-se de um impulso. Esse impulso vem das big techs, que têm os algoritmos que ficam nos conquistando e nos oferecendo produtos e serviços de acordo com os nossos gostos e preferências. Há uma ‘algoritmização’ da nossa vida, o que é um perigo enorme porque todos nós temos um foco, todos nós queremos obter um certo resultado, todos nós temos um planejamento de vida, só que a gente vai de deparando no meio do caminho com super ofertas de informação. Vivemos a civilização do excesso, principalmente excesso de informações e de imagens.” 

Qualquer cidadão comum hoje tem mais informação do que o presidente dos EUA tinha à sua disposição nos anos 1970, ou seja, as pessoas ganharam poder e são muito mais críticas. Antes, os problemas ficavam no analógico, hoje, eles vão para o digital, eles são amplificados, caem em rede e causam danos, principalmente de reputação. 

Schüler destaca que há um problema muito sério com reputação. “Cada um precisa cuidar da sua reputação e da reputação da sua empresa. O que coloca na rede social, o que diz, o que não diz, está todo mundo mais nervoso. A revolução tecnológica criou um impacto brutal”, pontua. 

Um suspiro tímido para o Brasil 

O Brasil tem hoje o maior número de geração de empregos da história, são quase 42 milhões de pessoas no Cadstro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), com carteira assinada. População ocupada chegando muito perto de 100 milhões de brasileiros, o que é um recorde histórico. Schüler destaca que a renda está um pouco abaixo ainda, mas em um processo de recuperação. “Houve muita criação de empresas, principalmente Microempreendedor Individual (MEI) durante a pandemia provocada pelo Covid-19. Muita gente tem bronca da ‘pejotização’, mas que bom que as pessoas têm alternativas, que bom que as pessoas estão trabalhando e as empresas contratando, que bom ter flexibilização e fazer nossos horários, sem custos adicionais e com negociações mais livres.” 

Ele é enfático ao dizer que não se pode pautar a economia brasileira na era da tecnologia, especialmente na área de serviços, pela legislação trabalhista dos anos 1940, que foi feita para fábrica, para padronizar tudo. “A Reforma Trabalhista não é precária. Nós vivemos um problema que 40% da economia está fora do mercado de trabalho, está na informalidade, não consegue entrar, entre outras coisas, pela enorme burocracia da questão trabalhista no Brasil. Então, quando a gente desburocratiza, é óbvio que a gente inclui. Não é a Reforma que vai criar emprego ou que tenha criado, ela facilita que as pessoas sejam contratadas ou contratem. “A maioria de vocês contrata. Para um pequeno empresário assinar uma carteira nesse País, é um ato de coragem.” 

Dado do Bank of America aponta 3,25% de crescimento para este ano, o que não é nada para um país jovem como o Brasil, mas é uma linha de recuperação da economia. “O Brasil tem muitas notícias positivas, mas muitos problemas estruturais para resolver. Nós estamos saindo do bônus demográfico, que é uma situação que só acontece uma vez na história do país, que é o melhor momento, da melhor relação de gente produtiva no mercado de trabalho, entre 14 e 65 anos, nos últimos cinco anos. Ou o País enriquece com o bônus demográfico ou será muito difícil crescer novamente. Se não souber aproveitar esta situação para ter um crescimento robusto, ficará velho sem ficar rico.” 

Para isso, é preciso aumentar a produtividade, para voltar a crescer, com gente que sabe fazer as coisas, gente treinada, empresas dinâmicas, capazes de competir, boa regulação, o Estado vai ter que parar de gastar. 

Problemas a serem superados 

No que diz respeito à carga tributária, o Brasil é o país com a maior da América Latina, 13% do Produto Interno Bruto é gasto com funcionalismo público, temos o judiciário e o legislativo mais caros do mundo. “Sabe quanto um parlamentar no Brasil? 528% da renda média do País; o segundo lugar fica para a Argentina, com 228%; e média da União Europeia é 40%. Na Suécia, os deputados têm menos de um assessor, ou seja, um mesmo assessor atende mais de um parlamentar, enquanto o Brasil tem 25 assessores para cada parlamentar. É um absurdo. Brasil é um país pobre metido a rico, que se financia cobrando imposto da população.