Indústria e canal perfumaria na retomada do setor

Em muitas cidades, as perfumarias já somam mais de dois meses de portas fechadas e ainda não têm previsão de quando seus clientes poderão frequentar os estabelecimentos. Além do desafio de atrair novamente os clientes para as lojas, muitos empresários se veem sem muitas alternativas, principalmente quando são inexperientes no mundo digital. E é tarefa também da indústria ajudar o canal perfumaria na retomada do setor.

E, para contribuir com os empresários de varejo de perfumaria no cenário atual, a Beauty Fair promoveu o bate-papo on-line “As estratégias da indústria para a retomada do canal perfumaria” com a participação de profissionais da indústria, como Bruno Wolmer (Coty), Katia Coutinho (Cless Cosméticos), Álvaro Garcia (Multi B), Joana Fleury (L’Oréal) e Wilson Ribeiro (Eico), que trouxeram alguns caminhos para a sobrevivência do canal perfumaria agora e depois da pandemia.

Agora…

A COVID-19 trouxe uma reflexão sobre como manter um fluxo de caixa adequado diante da falta de vendas em lojas físicas, bem como manter os empregos de toda equipe que está em casa, tanto atuando em home office, quanto cumprindo férias, por exemplo. A preocupação é: como se reinventar em um cenário incerto sobre a sobrevivência das perfumarias, mas com um amplo campo a ser explorado na união entre o físico e o digital para que os consumidores consigam ter acesso aos produtos, que continuam a ser prioridades na questão de saúde, bem-estar e autoestima das pessoas?

Depois…

Acredita-se que a abertura das lojas pode acontecer em médio prazo, desde que se mantenha todas as recomendações dos órgãos competentes com o objetivo de ter locais seguros. Entre as medidas sugeridas, Bruno Wolmer comentou sobre a questão das demonstrações dos produtos, utilizadas como estratégia de vendas e que, diante do alto risco de contágio, esse tipo de ação terá que ser suspensa por tempo indeterminado, o que também é de suma importância ter um novo plano para os colaboradores que atuavam nessa área dentro das perfumarias, além da busca por assertividade no mix de produtos, gestão de caixa, responsabilidade social e a proteção da equipe.

Indústria e varejo precisam estar unidos na retomada do setor

Proximidade entre indústria e varejo

Bruno Wolmer também ressaltou que a indústria e o canal perfumaria precisam estar juntos na retomada do setor e buscar soluções que, de fato, atinjam os resultados desejados. Ele indicou que, um a cada dois esmaltes é vendido em perfumaria, e que quatro em cada 10 colorações também são compradas dentro desse tipo de estabelecimento, o que reforça a sua análise sobre o que é produzido ser alinhado com o ponto de venda de uma forma efetiva e coerente com os desejos e comportamento do consumidor.

Quanto mais reconhecida como uma marca de qualidade, mais chances as empresas do setor de beleza têm de ter um público fiel e que reconhece o quão boa ela consegue ser diante da solução de inúmeras questões relacionadas ao segmento. Essa não é a primeira crise que o mundo enfrenta e, por isso, “a gente sabe, através das crises anteriores que, no pós-crise, as marcas reconhecidas com ótima qualidade e preços acessíveis ganham força e relevância”, enfatizou Bruno.

Mudanças são necessárias

No momento do fechamento das perfumarias para cumprir o período de quarentena, a Cless Cosméticos tomou algumas medidas para ter um modo de trabalhar seguro e produtivo. Katia Coutinho relembrou a decisão da marca em colocar 50% da equipe em período de férias e os outros 50% permaneceram trabalhando para buscar eficiência, mas sem deixar de lado a preocupação com a saúde e segurança de cada colaborador.

A marca, que é líder em spray para cabelos, sabe da importância das perfumarias, já que seus produtos são, majoritariamente, vendidos por esse canal. Outra estratégia foi inovar com o lançamento de outro produto, uma linha de álcool em gel. “Foi um diferencial para trazer um adicional para a gente”, disse Katia.

Reforçar a presença no mundo digital também foi uma das soluções encontradas para manter contato com a equipe, compartilhar material de treinamento, novos modelos de trabalho, bem como demonstrar a responsabilidade social em doar itens úteis às comunidades, pessoas em situação de rua e inibir a violência doméstica com a campanha “Amigo meu não bate em mulher”.

Sobre a relação da marca com o digital, Katia afirmou que “a única relação que nós teremos hoje é o canal digital. Nunca atuamos por meio do e-commerce; nós estamos apoiando todos os parceiros e os e-commerce das perfumarias”, ressaltou.

Sobre o retorno dos investimentos no mundo físico, a profissional acredita que o mercado precisará avaliar toda a sua relação com o custo-benefício, assim como investir em um espaço mais otimizado, com um portfólio que seja capaz de realmente atender às necessidades dos clientes. Além disso, ela também acredita que o canal perfumaria esteja receptivo às mudanças e que, por isso, irá permanecer próximo dos consumidores.

Planos e estratégias

Álvaro Garcia comentou que um dos primeiros passos é criar um comitê de crise, pois todos estão vulneráveis aos seus efeitos. “É uma crise que afeta direto o nosso caixa, e acho que é a parte mais dura em curtíssimo prazo”.

Ele também indicou a necessidade em se fazer um plano de retomada, mesmo que gradual, principalmente ao que tange o retorno das lojas físicas. “O plano que a gente colocar na rua não vai ser o plano definitivo; vai ser um plano que a gente vai ter que ajustar, semana a semana, mês a mês”, enfatizou.

Garcia também acredita que os clientes voltarão às perfumarias, mas que os estabelecimentos comerciais deverão permanecer com medidas de segurança, como o uso do álcool em gel, que deverá fazer parte da rotina dos colaboradores e clientes. Lembrando que muitos consumidores vão querer entrar e sair rapidamente das lojas, chamando a atenção para outra estratégia que deve ser implementada para satisfazer esse novo hábito.

A mensagem que a beleza precisa passar

Para Joana Fleury é evidente que representar uma grande marca, como a L’Oréal, a coloca numa posição de identificar como o digital pode fortalecer a empresa e, claro, ajudar as pessoas.

Durante o período de pandemia, a L’Oréal dobrou o time direcionado ao e-commerce e também realizou doações para os profissionais da área da saúde, para a população de baixa renda e dedicou-se à internet como parte da solução para esse momento de crise. “Muitos dos nossos parceiros também não estavam preparados para essa tomada digital”, ressaltou ela que acredita que a indústria e o canal perfumaria precisam estar juntos na retomada do setor.

Ao avaliar o comportamento do consumidor, Joana diz que ele ingressa no mundo digital sem abandonar as lojas físicas, o que traz esperança de que o pós-pandemia possibilitará o retorno das atividades do setor de perfumaria rapidamente. Inovar agora é peça-chave para a profissional, que também destaca a necessidade em se ter uma aproximação genuína com o cliente e de forma ágil.

Para ela, “o grande pulo do gato na venda remota é a concentração do tráfego, é ter mais opções como se estivesse pulando de loja em loja, como se fosse um shopping”, e que isso atrai para um consumo dos produtos desejados.

O retorno

Por mais que a tecnologia seja uma forte aliada no momento de crise e deva continuar sendo no pós-pandemia, Wilson Ribeiro reforçou a importância das perfumarias se prepararem para o retorno das lojas físicas. “O atendimento vai continuar. A consumidora brasileira gosta de ser orientada”, disse.

Ele também indicou que a tomada de decisão dos gestores precisa ser rápida para a gestão do negócio não só agora, mas também no futuro. “Tem lojas que atingiram 70% das vendas com televendas, Whatsapp e portas meio abertas”, disse.

A segurança dos clientes também precisa ser mantida no pós-crise e é exatamente nisso que a perfumaria precisa investir quando abrir suas portas novamente. Ribeiro destacou, por fim, que há muitos prós que o mercado oferece às perfumarias e que eles precisam ser bem aproveitados e que uma das saídas é ter uma equipe muito bem preparada no ponto de venda.

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