Varejo

Networking de milhões

Como as habilidades pessoais têm mudado o jogo no mercado de beleza e se tornam cada vez mais importantes para a futuro dos negócios.

Por Ligia Favoretto em 30 de agosto de 2022

Todo mundo quer ter um networking “de milhões”, mas nem todo mundo está preparado para fazer esta troca, de fato. Troca? Sim! Networking é uma troca. Troca de informações, experiências, aprendizados e conhecimentos com outro profissional. Vale mencionar que não é apenas um momento para pedir ajuda, pensando apenas em necessidades particulares.

O bom networking vai muito além. Ele consiste em construir uma rede de contatos em ambientes virtuais ou presenciais, com profissionais de diversos segmentos, empresas e níveis hierárquicos diferentes.  Por fim, o networking “de milhões” não é uma tarefa pontual, que você prática uma única vez e pronto – é preciso investir no relacionamento a longo prazo, sendo cultivado durante toda uma carreira profissional.

Aliás, criar boas conexões profissionais, possibilita muitas oportunidades de negócios e traz inúmeros benefícios, podendo ser um divisor de águas para qualquer profissional que deseja ser reconhecido por sua profissão e busca destaque no mercado.

A executiva comercial da Mid Falconi, Mariana de Oliveira Costa Leite, lista algumas delas. Confira a seguir:

  • Promoções: com bons contatos profissionais, você aumenta sua visibilidade, ganhando destaque, e consequentemente, tem mais oportunidades de crescimento, uma vez que muitos já sabem que você é e o quanto você é bom no que faz. 
  • Novas propostas e novos projetos: quanto mais contatos relevantes, maior a possibilidade de que você seja convidado para participar de palestras, novos projetos, eventos, treinamentos, entre outros.
  • Ganho de autoridade: por fazer conexão com diferentes empresas e profissionais, trocar experiências, aprendizados, conhecimentos e marcar presença, essas ações proporcionam o ganho de autoridade, fazendo com que você seja reconhecido, lembrado com mais facilidade e seja visto como uma referência.

Para manter as pessoas dentro de um rol de contatos, é preciso construir um relacionamento, criar uma conexão, como:

  • Manter-se ativo nas redes sociais: como Linkedin e Instagram. Buscar novos contatos, interagir em fóruns e grupos criados com temas específicos da sua área de atuação, ou área de interesse, possibilitando a troca de experiências. 
  • Produzir conteúdo: a produção de conteúdo é uma ótima forma de aumentar a visibilidade no meio digital. Publicar artigos, ou até conteúdos curtos, geram interação e engajamento.
  • Participar de eventos: encontros com grupos do trabalho, da faculdade, eventos da sua área de atuação, feiras, cursos, são excelentes oportunidades para conhecer pessoas novas e manter contato com pessoas que já fazem parte da sua rede.
  • Manter-se atualizado: buscar novos conhecimentos, novas técnicas ou ferramentas, ajudam não só na produção dos conteúdos, mas também a se manter ativo nas redes, agregando nas discussões em grupos específicos. Também ajuda a construir novos relacionamentos e a manter-se como referência em sua área de atuação.

A executiva revela que o cenário global vem sofrendo grandes transformações nos últimos anos, impulsionado principalmente pelo período da pandemia de Covid-19. “O mercado de beleza, por exemplo, registrou crescimento e vem se fortalecendo, na contramão da crise econômica. O que explica esse aumento é a busca de uma melhor qualidade de vida. As pessoas estão mais preocupadas com a saúde e, consequentemente, dão mais atenção aos cuidados do corpo”, pontua.

O perfil do consumidor também foi afetado.  Mariana comenta que as pessoas têm mais facilidade para o acesso às informações – é impossível não notar que os consumidores estão mais seletivos, buscando dados para entender sobre as técnicas e os procedimentos usados na fabricação dos produtos ou prestação dos serviços. Portanto, segundo ela, o profissional do mercado de beleza precisa ter uma aprendizagem ativa, buscando o aperfeiçoamento para obter um maior conhecimento sobre sua atuação e, estar antenado a novas técnicas e tendências do mercado de beleza, já que a inovação e a tecnologia estão a passos largos.  

“O profissional do mercado de beleza, também precisa ter um bom networking e relacionamento interpessoal, buscando propiciar um clima de bem-estar aos clientes, gerando um ambiente harmonioso, de acolhimento, empatia e confiança. Assim, a empresa gera mais valor aos clientes e, pode progredir e atingir os resultados esperados”, enfatiza.

No que diz respeito à construção de uma marca, por exemplo, é importante lembrar que as pessoas se conectam à uma pessoa, ou à uma marca, quando elas se identificam com os valores, e enxergam benefícios nesse relacionamento.

Habilidade pessoais mais valorizadas

As habilidades pessoais têm sido cada vez mais um diferencial competitivo para indústrias e varejistas.

A CEO da XL Consultoria e sócia investidora da UGOTIT learning technology, Cibele Vacchiano, não basta ter os melhores profissionais do ponto de vista técnico se eles não tiverem habilidade de construir pontes com os stakeholders de todo o ecossistema impactado pela organização. “Habilidades como inteligência emocional, capacidade de influenciar para a ação, de se tornar prioridade em um mundo VUCA (Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade) são fundamentais para vencer nesse mercado, que depende de inovação constante, que muda com uma velocidade impressionante, é preciso saber adaptar-se, ter alto nível de resiliência e ser ágil para envolver os principais influenciadores de sucesso das marcas.”

Ela percebe que inteligência emocional, resiliência/flexibilidade e agilidade são bastante procuradas devido ao cenário atual, de mudanças constantes. “Os profissionais que conseguem se adaptar, responder rapidamente às mudanças e mesmo assim gerar resultados, são os que as empresas mais necessitam nesse momento. Também percebo uma grande necessidade de profissionais que se preocupam genuinamente com pessoas, exercendo uma boa liderança para direcionar e motivar, tendo um olhar mais empático para promover o bem-estar entre a equipe. Também percebo uma grande necessidade de profissionais que se preocupam genuinamente com pessoas, exercendo uma boa liderança para direcionar e motivar, tendo um olhar mais empático para promover o bem-estar entre a equipe”, ressalta.

Uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial (FEM), publicada pelo Infomoney, ano passado, lista as 15 habilidades que vão estar em alta até 2025. São elas:

  1. Pensamento analítico e inovação.
  2. Aprendizagem ativa e estratégias de aprendizado.
  3. Resolução de problemas.
  4. Pensamento crítico.
  5. Criatividade.
  6. Liderança.
  7. Uso, monitoramento e controle de tecnologias.
  8. Programação.
  9. Resiliência, Tolerância ao estresse e flexibilidade.
  10. Raciocínio lógico.
  11. Inteligência emocional.
  12. Experiência do usuário.
  13. Ser orientado a servir o cliente.
  14. Análise e avaliação de sistemas.
  15. Persuasão e negociação.

Pesquisa de soft skills: como montar uma de sucesso

Quando falamos de pesquisa de soft skills, geralmente se fala de um assessment de competências. O assessment é uma avaliação que busca entender e apontar tendências de comportamento.

“A primeira ação é entender quais os comportamentos esperados para cada competência a ser avaliada. O que na prática, faz com que uma pessoa tenha resiliência? Quais são os comportamentos esperados de alguém resiliente, flexível às mudanças? Por meio de perguntas, é possível avaliar se a competência é praticada ou não, e em qual grau”, explica Mariana, da Mid Falconi.

A melhor maneira de medir se a pessoa exerce ou pratica os comportamentos esperados para cada competência, segundo a executiva, é a observação e a coleta de evidências. “O ideal é inclusive uma avaliação 360, em que além da autoavaliação, a pessoa possa contar também com a percepção de quem convive com ela no dia a dia: as lideranças, os pares e a equipe.”

Quem faz, na prática

Cada vez mais o mercado de beleza tem se formalizado como um setor que necessita de gestão profissional. Até algum tempo atrás os salões, por exemplo, não eram vistos como empresa.

Mas, dentro de um setor onde a operação é dependente de pessoas, ter habilidades relacionadas a gestão delas e conhecimento sobre administração, é muito importante.

A sócia proprietária do Studio W, Rosangela Barchetta, conta que nos novos tempos, principalmente após a pandemia, alguns pontos foram profundamente discutidos como a tendência de relacionamento dos consumidores com o que realmente faça sentido para a vida deles, cresce a cada dia. “Quando reservamos um tempo para cuidar da gente, queremos pessoas que tenham sinergia com nossos princípios. Cada vez mais o senso de comunidade vem se fortalecendo e acredito que ainda falta uma boa parte para que gratidão, ética, empatia, solidariedade não sejam apenas palavras de engajamento digital no nosso setor e até no mundo, mas que na realidade sejam sentimentos que possam realmente impactar o mundo e o nosso setor de forma positiva.”

Rosangela Barchetta, sócia proprietária do Studio W

Rosangela conquistou tudo com dedicação extrema ligada à vontade de aprender para fazer mais e melhor. “Gosto de aprender no dia a dia e de estar junto das pessoas que eu amo, que trabalham comigo, enfim, que fazem parte da minha jornada e todo meu foco de networking está no meu relacionamento com eles”, afirma.

Segundo a empresária, o mais encantador no Studio W é ter pessoas que sonham, se desenvolvem e que se dedicam a atender cada cliente com respeito, valorizando a marca de forma genuína. “Acredito que o que faz o Studio W crescer é uma gestão séria e responsável e um investimento contínuo no processo de desenvolvimento humano por meio do nosso departamento de educação.”

Vibrar com cada conquista dos membros de suaequipe é uma máxima na vida da Rosangela. “Sempre faço questão que as pessoas saibam o quanto é importante para minha motivação pessoal e profissional a conquista delas. Hoje, felizmente, sou muito respeitada pelos fornecedores, não pelos valores que minha empresa consome, mas pelas ideias que trocamos, pelas parcerias que mantivemos ao longo dos anos e pela seriedade da forma que as relações comerciais acontecem.”

Para o diretor geral da Soneda, Minoru Kamachi, atrás de um CNPJ tem sempre um CPF e é com ele que as pessoas se relacionam de verdade. “Acredito que em qualquer mercado o que importa são as relações, como você se relaciona com seus clientes ou com seus fornecedores e funcionários. O networking funciona para quem tem credibilidade. Então, honrar todos os combinados com certeza faz toda a diferença.”

Minoru Kamachi, sócio proprietário da rede Soneda

O empresário pontua que busca sempre contratar pessoas GGG. Ele explica: “Gente que Gosta de Gente. Habilidade técnica se aprende, gostar de se relacionar não.”

Ele conta que antes de ter a Soneda tinha um karaokê e nesta época, conheceu uma pessoa que o procurou depois de alguns anos, quando já estava no ramo de perfumaria. “Por me conhecer e confiar no meu trabalho, intermediou uma parceria com a Daiso Japan, que é uma rede mundial que tem mais de cinco mil lojas em mais de 20 países. Isso viabilizou um store in store da Daiso em mais de dez lojas da Soneda.”

O sócio fundador da Vult Cosmética, empresa que foi adquirida pelo Grupo Boticário em 2018, Murilo Reggiani, tem um histórico e tanto. Ele diz que se não soubermos servir primeiro, nunca mereceremos sermos servidos. A experiência vivida junto a um parceiro se fortalece ou não, em decorrência da relação “expectativa X entrega”, e se isso não for positivo, não existirá reciprocidade, ou até pior, o colateral pode vir potencializado e destruir a relação de confiança que é extremamente valiosa para o sucesso das parcerias duradouras.

Murilo Reggiani durante o Seminário de Gestão de Salões Beauty Fair 2022

“Pessoas são a chave de/e para tudo! No mercado da beleza não é diferente. As ‘relações leais’ devem existir em todos os elos da cadeia, sejam com seus fornecedores, colaboradores, clientes e até com seus concorrentes, cito este último exemplo, pois acredito que o mercado da beleza não seria tão pujante se existissem poucas marcas de sucesso. Somos privilegiados por atuarmos em um setor extremamente dinâmico, ávido por novidades, capaz de absorver diversas marcas e produtos.”

Ele lembra que no início da empresa, maquiagem era muito “discriminada” nas farmácias e até mesmo na maioria das perfumarias. Existiam pouquíssimas marcas e itens e todas com trabalho e exposição pouco relevantes naquela época. “A Vult entrou fazendo diferente, criando soluções em movelaria, exposição, campanhas e treinamentos, mostrando aos varejistas que a categoria tinha um potencial imenso. Porém, para a categoria ser vista com relevância pelo consumidor, precisávamos de mais marcas para conquistarmos um ‘espaço dedicado’ exclusivo para maquiagem dentro das lojas e isso seria impossível ser feito somente com uma marca. A Vult deu o pontapé inicial, a ponto de inúmeras vezes convidar concorrentes para participarem conosco na expansão da categoria dentro dos PDVs, investindo juntos em exposição, displays, treinamentos e na sinalização do setor, permitindo assim, que maquiagem conquistasse um espaço relevante dentro das lojas.”

Dessa maneira, cresceu absurdamente, assumiu a liderança absoluta no setor e muitos no mercado os acompanharam. Para isso, precisou criar networking com o que era o menos improvável: seus concorrentes, que com raríssimas exceções, se tornaram e são seus grandes amigos até hoje.