O mercado da estética está em constante evolução, e fervilha de novidades que estimulam o paciente a querer melhorar sua beleza e autoestima – um filão para o profissional que se preocupa em acompanhar os avanços e se manter atualizado como forma de sentir segurança para atender, aperfeiçoar suas competências, se destacar da concorrência e não ser surpreendido caso algo não saia como planejado.
Uma das especialistas que mais levanta a bandeira da educação é a fisioterapeuta dermatofuncional Priscila Ferrari, que, apesar de jovem, tendo acabado de completar 40 anos, está entre as pioneiras da estética no Brasil, área em que atua já há duas décadas. Toda essa expertise justifica o fato dela ter sido escolhida como embaixadora do 17º Congresso Científico Internacional de Estética e Cosmetologia da Beauty Fair, que acontece de 9 a 12 de setembro de 2023, no Expo Center Norte. Para falar desses e de outros temas, a fisioterapeuta atendeu NEGÓCIOS DE BELEZA em uma de suas clínicas, em São Paulo; acompanhe.
Você defende que cada um se aperfeiçoe no que goste de fazer. Num mundo movido a modas e tendências, agir assim não pode ser financeiramente arriscado?
“Os maiores profissionais que conheço, os mais renomados, são aqueles que focaram os estudos e o trabalho em suas habilidades. Acredito que antes do mercenário há o missionário, que é o fazer por amor. O dinheiro vem como consequência. Para quem quer descobrir qual o seu caminho, sugiro perguntar a si mesmo: o que eu gosto de fazer? o que eu quero entregar para as pessoas? Assim, você descobre seu interesse e deixa de ser uma luz que ilumina todos os lados para se tornar um laser, que tem força e direcionamento. Conhecimento é poder.”
De tantas lições aprendidas ao longo dos seus 20 anos de carreira, qual você considera da melhor?
“Ter empatia! Às vezes, uma dor estética pode parecer boba para o profissional, mas não é para a pessoa que o procurou buscando ajuda. Só entende isso quem ouve o paciente, se coloca no lugar dele e usa o conhecimento técnico para encontrar a melhor solução e até para entender se aquela dor é coerente com o que a avaliação mostra. Digo isso porque também recebemos queixas com fundo psicológico, que precisam ser analisadas para que possamos desenvolver um protocolo específico e que o paciente fique feliz com o resultado. Isso, para mim, é oferecer excelência desde o primeiro atendimento.”
Mesmo com um bom resultado estético o paciente pode não ficar feliz e satisfeito. Como você se blinda desse tipo de situação?
“Além de ter empatia, como comentei, é fundamental fazer uma boa anamnese, fotografar o antes, o durante e o depois e mostrar esses resultados para o paciente. Isso porque, às vezes, ele não lembra como chegou à clínica meses atrás ou não consegue visualizar a melhora absurda que teve com o tratamento.”
A humanização é um dos pilares do seu atendimento; por quê?
“Acredito que humanização é em entender que cada corpo é diferente. Portanto, é preciso respeitar o biotipo de cada paciente, ter empatia com sua dor estética e usar o meu conhecimento técnico junto com o bom senso para elaborar um protocolo que vai resolver a insatisfação da pessoa sem causar um novo problema no futuro.”
Você diz que todo profissional da estética precisa aprender a falar não. Por que vê isso como algo tão importante?
“São os nãos que a gente fala que nos levam para onde queremos ir, não os sins. Vou dar um exemplo: recentemente atendi uma paciente que queria fazer sessões de criolipólise. E só. Expliquei que também seria essencial fazer o pós-procedimento que eu estava indicando porque a criolipólise sozinha não iria trazer o resultado que ela queria, e ainda provocaria outra dor lá na frente, que seria a flacidez. E esse não é o propósito do meu trabalho nem da minha clínica. Agir assim não é fácil, mas a gente consegue quando trabalha a própria autoestima, aprender a se posicionar e a respeitar nossos valores, que é algo que construímos o longo do tempo, com conhecimento e experiência. Por isso, aliás, é mais difícil falar não no início da carreira, quando a gente quer agradar todo mundo. Isso muda quando nos especializamos, atualizamos e colocamos em prática tudo o aprendemos, já que a repetição leva a excelência.”
Como foi sua trajetória até ter sucesso com a Clínica Priscila Ferrari, que hoje conta com duas unidades em São Paulo, uma em Santana e outra nos Jardins?
“Preciso dizer que, pelo menos no meu caso, não foi só a experiência em estética que me trouxe até aqui. Comecei a trabalhar aos 16 anos, fazendo eventos e entregando panfletos, onde eu precisava fazer uma abordagem para aquele potencial cliente prestar atenção em mim, um conhecimento que aperfeiçoei e adaptei para chegar à estratégia que uso hoje com meus pacientes. Isso levou tempo, por isso digo que as pessoas precisam parar um pouquinho de se comparar com os outros e com o que veem nas redes sociais.
Quem olha meu Instagram acha que minha vida é perfeita e provavelmente nem sonha que comecei auxiliando uma esteticista e tinha um salário de R$ 800 por mês. Nem que quando resolvi empreender comprei uma máquina que foi roubada junto com meu carro velhinho e que só consegui atender porque minhas pacientes locavam o equipamento para mim. Ou que eu era extremamente tímida e precisei vencer esse medo para subir num palco e compartilhar minha experiência com uma tecnologia que eu dominava e até então só era oferecida nos consultórios dermatológicos, como no que eu trabalhava. Foi nesse momento que entendi que queria brilhar e ser conhecida não para ter fama ou dinheiro, mas por ser uma ótima profissional e compartilhar conhecimento.
Hoje essa missão está em pausa porque quero vivenciar plenamente a maternidade. Quando os meninos crescerem um pouco mais vou atender esse chamado e voltar a aula, mas só vou fazer isso quando puder me entregar com excelência. Acredito que é importante focar para dar o meu melhor em tudo o que faço.”
Você já viu muita coisa mudar no mercado da estética. Mas, e o futuro, no que você aposta?
“A verdade é que o mercado da estética transcendeu! Os profissionais cresceram demais e hoje têm um poder que jamais imaginaram. Penso que isso vai melhorar ainda mais, inclusive porque algumas máscaras estão caindo. E é por isso que torço, de verdade, para que quem está chegando agora se inspire em nós, que somos mais experientes, para estudar e melhorar o que estamos fazendo para elevar o conhecimento e respeito pela nossa profissão. Quando me formei em fisioterapia me recriminaram quando eu disse que iria para a dermatofuncional, naquele momento uma área sem ciência. Ao encontrar um professor na pós-graduação e dizer que a estética tinha muita tecnologia ele me questionou: e o que você está publicando sobre isso? cadê a sua colaboração científica? Aquilo me fez refletir sobre estudar, me especializar e me atualizar como algo que eu precisaria fazer por toda a vida. Afinal, nem a melhor carruagem do século passado se compara ao carro popular mais velhinho de hoje.”
A pandemia abalou negócios, deixando empreendedores com medo. Como você vê todo esse movimento?
“A pandemia deixou muitos profissionais desesperançosos, sim, mas é preciso ver que o mercado que mais cresceu no período foi o de luxo. E a estética se enquadra nele. Há muita gente com potencial de consumir nossos serviços, e como quem busca a estética deseja o belo temos que ter sempre em mente que o visual é muito importante para atrair clientes. Quem entra hoje na minha clínica, além de beleza, se depara com um cheiro especial, que é a minha mensagem olfativa, algo que tem a intenção de fazer a pessoa lembrar de mim sempre que sentir essa fragrância. Mas no começo não era assim: eu tinha uma apenas uma salinha bem pequenina, mas que reformei, limpei, deixei bonita. Coloquei na recepção uma tevê parcelada na Casas Bahia, e isso mesmo não tendo nenhum equipamento. Por isso afirmo que não é preciso ter um espaço enorme, mas crescer na sua medida, dando um passo de cada vez. E o momento atual ajuda demais nisso, porque dez anos atrás a gente não conseguia comprar uma tecnologia com bom custo-benefício e alcançar resultados incríveis que conseguimos hoje. Nesse mercado que não para de crescer o profissional que fizer coisas boas, se preocupar com a saúde e o cuidado do cliente, for ético, qualificado, estudar, se especializar e atualizar vai evoluir, construir um nome e perdurar. Já os que se preocuparem apenas com a fama podem até ficar conhecidos porque focaram nisso, mas vão passar porque se tornarão obsoletos, como uma carruagem.”
Quem chega ao topo da profissão não pode dar um tempo nos estudos?
“Com quase 20 anos de formada estou fazendo uma pós-graduação. Acho que o profissional da estética tem sempre que se aprofundar, mergulhar no conhecimento porque ele é a base que traz segurança para atuar e obter ótimos resultados.”
Na sua opinião, qual é hoje uma das grandes dores do profissional da estética?
“Enfrentamos várias dores no dia a dia. Uma delas é: acabei de me formar, tenho a sensação de que não sei nada e não estou pronto para atender. Em momentos assim sugiro lembrar que quanto mais você estuda, faz cursos, participa de congressos, mais você se aprimora. A humildade de estar sempre em busca de conhecimento vai fazer você crescer e oferecer o melhor para o seu paciente, que busca resultado e segurança no atendimento. Há alguns anos, nós que somos pioneiros da estética, não tínhamos o privilégio de ter tantas especializações, atualizações e formações como existem hoje. Falando nisso, os esteticistas estão de parabéns por terem na grade curricular os injetáveis. É sempre preciso ressaltar a importância de se qualificar para minimizar o risco de intercorrências, que, infelizmente, podem acontecer, especialmente quando você realiza muitos atendimentos.”
Qual mensagem você gostaria de deixar para reflexão?
“Quem é leigo na estética faz de tudo porque não tem noção que pode até matar uma pessoa. E é por isso que apoio a criação do Conselho Federal de Estética, para fortalecer a profissão, garantir a qualificação dos profissionais e dos serviços prestados.”
Entrevista concedida à Deborah Huff