Indústria

Nayana d’Oliveira: “Começamos do zero, sem conexões no varejo”

A empreendedora dá entrevista para a série "Quem faz o mercado de beleza no Brasil" e compartilha os desafios para pequenos negócios de beleza

Por Renata Tarrio em 18 de novembro de 2022

Empreender na área de beleza é desafiador. Muitos profissionais encontram dificuldades para construir um salão de beleza ou montar uma pequena perfumaria para revender produtos. Quando falamos de produção cosmética, esse desafio pode ser ainda maior. Isso porque a atividade envolve muito além do que o público é capaz de ver: é preciso ir atrás de matéria-prima de qualidade, realizar inúmeros testes, garantir eficiência, tudo isso a partir de um conhecimento técnico que vai desde química até a experiência do cliente com a embalagem e comunicação.

Fica parecendo que essa é uma tarefa para a grande indústria da beleza. Ainda assim, Nayana d’Oliveira decidiu se aventurar. A empreendedora de 34 anos, natural de Belém do Pará, imaginou que construiria sua carreira na área do Direito. Fez bacharelado no curso, se pós-graduou em Direito Tributário e concluiu um MBA em Marketing Digital. Mas sua paixão estava em outro lugar.

Há 10 anos, começou a maquiar profissionalmente. “Como sempre fui apaixonada por maquiagem, ao longo de uma década, me profissionalizei fazendo muitos cursos, trabalhei como maquiadora e ministrei aulas de automaquiagem”, conta. Hoje, Nayana é co-fundadora de uma linha de maquiagem independente, a KUNST Cosmetics, com produção 100% vegana. Conheça essa história inspiradora.

NB – Como foi seu primeiro contato com a área da beleza?

Nayana – Acredito que meu primeiro contato com a área aconteceu da mesma forma que a maioria dos Millennials: tentando copiar em casa os looks de revista. Antes do Youtube ganhar popularidade, nós não tínhamos muitas fontes de tutoriais, então a única opção era treinar em casa até conseguir um resultado parecido. 

NB – Como nasceu a Kunst?

Nayana – Eu já vendia maquiagens em Belém, principalmente nos meus cursos. Conversava com Chris, meu namorado, sobre como era difícil achar makes de marcas que realmente se importassem com os ingredientes e com a qualidades dos produtos. Pensava que seria incrível se conseguíssemos desenvolver cosméticos de alta qualidade que fossem veganos, sem testes em animais, e desenvolvido por uma marca totalmente independente.

Nós pensávamos em desenvolver uma marca com um design bonito e moderno, que não fosse apenas impulsionado pela maximização do lucro. Queremos sempre colocar as pessoas e o meio ambiente no centro das nossas operações, criar um espaço criativo e dar voz para todo mundo. 

Quantas vezes já nos decepcionamos comprando maquiagem, né? Eu, por exemplo, nunca colocaria no mercado uma coisa que sei que não funciona, apenas com o intuito de vender. O objetivo sempre foi ajudar e facilitar a vida de quem usa KUNST ao máximo e dar liberdade para criar. 

Queria resolver problemas que eu, como maquiadora, e outras amigas dá área identificávamos observando as dificuldades de quem estava aprendendo a se automaquiar também. Esse momento de criar a KUNST foi um devaneio 100% encorajado pelo Chris e tomamos coragem para começar o processo.

NB – Como você vê o momento atual para a pequena indústria do setor de beleza?

Nayana – O mercado é bem desafiador, porém estamos observando um movimento de marcas menores surgindo. O consumidor também está notando essa movimentação e acreditando no trabalho de empresas novas. Há alguns anos tínhamos que fazer compras internacionais para que pudéssemos ter aquela cor ou o produto que desejávamos. Hoje o cenário é bem diferente.

NB – Quais são seus planos para o futuro?

Nayana- Continuar a crescer de forma saudável. Ser conhecida como uma marca indie fornecendo produtos modernos, inovadores e de alta qualidade em todo o Brasil e outras partes do mundo. Quero expandir para novos países e mostrar a eles a forte capacidade do Brasil no mercado de beleza.

NB – Para você, quais são os principais desafios que o empreendedor enfrenta na área de beleza?

Nayana- No nosso caso, somos uma verdadeira marca indie e, por isso, não temos uma rede de distribuição ou linhas/spin-offs de grandes corporações. Começamos do zero, sem conexões anteriores no varejo.

Outro desafio é a questão dos tributos, que precisam ser pagos adiantados como o caso do  ICMS-ST, e toda a parte burocrática de se ter uma empresa. Quem pensa em abrir qualquer negócio deve considerar esses aspectos.

NB – Qual conselho você dá para quem quer empreender na área?

Nayana – Se informe bastante antes de começar. Não é uma tarefa simples, mas se informe de todas as maneiras. Além disso, crie um foco, um nicho, em um setor na área da beleza que você quer explorar. O processo é bem longo e você deve se preparar o máximo possível antes de dar o start. 

NB- Como você acha que sua iniciativa pode impactar o mercado de beleza do Brasil?

O mercado de beleza no Brasil era e ainda é muito concentrado, com alguns grandes players dominando o setor. No entanto, mostramos que a proximidade com os consumidores e a identificação deles com uma marca e seus valores são importantes para as pessoas. Uma marca indie pode satisfazer certos desejos dos consumidores muitas vezes melhor do que empresas maiores.