Beauty Fair

Cosméticos naturais ganham espaço na vida do consumidor

Os produtos naturais e orgânicos crescem dentro de uma sociedade mais atenta para a qualidade do que está consumindo e quais os impactos para a sua saúde e para o meio ambiente. Categoria terá espaço exclusivo na Beauty Fair 2022.

Cosméticos naturais
Por Ligia Favoretto em 30 de agosto de 2022

Os cosméticos naturais passaram do status de tendência emergente há alguns anos para uma forte expectativa dos consumidores de hoje. Inicialmente proveniente da Europa e da América do Norte, a demanda dos consumidores por produtos naturais e orgânicos se espalhou por todos os continentes e entrou no mainstream com um número crescente de consumidores rejeitando formulações químicas em favor de alternativas naturais percebidas como melhores para sua saúde e para o meio ambiente.  

A diretora global de parcerias da BEAUTYSTREAMS, Fernanda Pigatto, explica que a busca de um estilo de vida saudável, o aumento de comportamentos ambientalmente conscientes, a conscientização do consumidor sobre os ingredientes cosméticos e todos os desafios sem precedentes da pandemia ajudaram em grande parte a alimentar a tendência e a demanda de produtos de beleza naturais e orgânicos que provavelmente se estabelecerá como um movimento sustentável. “Na era do consumismo consciente, o movimento está agora abrangendo uma lente mais ampla como formulações não tóxicas e limpas, transparência dos ingredientes, produtos veganos e garantias sem crueldade, ética, mas também fontes locais e regionais. Portanto, a escolha do consumidor de uma marca natural não está somente relacionada a ingredientes naturais ou orgânicos, mas também ao compromisso da marca com práticas ambientais, sociais e éticas.” 

A executiva comenta que os consumidores de beleza sábios estão cada vez mais informados sobre táticas de marketing de greenwashing ou claims pseudo-naturais, portanto esperam, mais do que nunca, de marcas de cosméticos naturais e orgânicos que os empurrem para provar o que os torna únicos e que atendem de forma confiável à demanda dos consumidores por produtos que ofereçam transparência, tranquilidade e certificações comprovadas, mas também que contribuam para a conservação de recursos, bem-estar animal e proteção climática, bem como outras questões éticas e sociais. “Com comportamentos de consumidores mais engajados em relação à saúde, social e ambiental que influenciam o mercado cosmético natural, marcas e fornecedores tornaram-se mais transparentes, sustentáveis e éticos em cada parte do processo de fabricação, desde a estratégia de marca, lançamento de produtos, até a cadeia de suprimentos que engloba o sourcing sustentável, a rastreabilidade dos ingredientes, a proteção da biodiversidade, a conservação da água e a redução dos resíduos dos aterros sanitários”, pontua.  

Para ela, não se trata mais apenas de produtos naturais e orgânicos, trata-se de cuidar das questões ecológicas mais amplas. Com foco na adaptação aos atuais comportamentos dos consumidores. Os varejistas chamam a atenção para a beleza natural e os ingredientes e ajudam as marcas de beleza natural a se tornarem mais acessíveis para os compradores, alocando mais espaço para em suas lojas para isso.  

Crescimento perceptível 

O mercado de cosméticos naturais e orgânicos tem florescido nas últimas décadas globalmente e o segmento agora representa uma proporção mais significativa do mercado de beleza em todo o mundo. Mesmo que a crise do Covid-19 tenha causado rupturas e desafios na indústria da beleza, a tendência para um estilo de vida mais natural e saudável jogou a favor dos pontos fortes do setor de cosméticos naturais e orgânicos.  

De acordo com o jornal Nutrition Business Journal, da New Hope Network, a indústria natural e orgânica (incluindo alimentos e bebidas, suplementos, produtos domésticos e categorias de cuidados pessoais) deverá superar US$ 300 bilhões em vendas até 2023 e US$ 400 bilhões até 2030, impulsionada por consumidores conscientes que colocam um prêmio na garantia de sua saúde e bem-estar, ao mesmo tempo em que procuram cada vez mais a responsabilidade social e a sustentabilidade.  

Fernanda lembra que os tradicionais obstáculos ao seu desenvolvimento (custos, dificuldades de formulação, eficácia contestada etc.) foram reduzidos e o segmento redescobriu suas alavancas de crescimento (compromisso com o planeta, desejo de retornar à simplicidade tranquilizadora evitando ingredientes controversos), e sua conveniência está ganhando todos os segmentos da população, não importa a que geração pertençam, o que possibilita prever um futuro mais próspero para ela. “Este mesmo jornal estima que o mercado global de beleza natural e orgânica está no caminho certo para atingir US$ 19,4 bilhões até 2023, e os analistas da Future Market Insights projetaram em um relatório de 2019 que o mercado global de beleza natural e orgânica ultrapassará US$ 54 bilhões até 2027.” 

Segundo dados de uma pesquisa realizada pela ResearchAndMarkets.com no Brasil, 53% dos entrevistados estavam interessados em produtos de beleza natural a partir de setembro de 2019. Enquanto isso, 31% acreditavam que os produtos fabricados com ingredientes orgânicos e naturais eram mais eficazes do que os que utilizavam produtos químicos. Em 2019, 9% dos consumidores que compraram um produto orgânico no Brasil optaram por comprar cosméticos orgânicos.  

Critérios para a escolha 

A naturalidade tem sido parte do desejo dos consumidores há vários anos e os cosméticos naturais se tornaram uma preocupação primária para os consumidores devido à sua consciência sobre sua saúde, bem-estar e estilo de vida, e agora também para ter um impacto ambiental, social e econômico positivo.  

“Por um lado, valores como o retorno à natureza, o respeito ao meio ambiente, a ideia de uma simbiose entre plantas e pele e, por outro lado, o medo da indústria química e petroquímica, a rejeição de ingredientes denunciados como tóxicos à saúde, ou a ‘crise’ do parabeno em meados dos anos 2000 foram os primeiros influenciadores na compra de cosméticos naturais por parte dos consumidores. A crise do Covid-19, as emergências sanitárias e climáticas, impulsionadas à vanguarda da preocupação de todos os consumidores, o aumento das necessidades de bem-estar e a garantia de que ela se exacerbou, só reforçaram a tendência de mais produtos naturais”, conta Fernanda. 

Agora, mais do que nunca, a executiva diz que ao comprar um produto cosmético natural ou orgânico, um número crescente de consumidores espera encontrar qualidades sustentáveis, ecológicas e éticas no produto. Eles consideram os cosméticos naturais e orgânicos como uma parte autêntica de seus valores e compromisso não apenas com o bem-estar humano, mas também com a proteção do planeta, da biodiversidade e do bem-estar animal. “Os consumidores também buscam maior transparência das marcas e varejistas sobre produtos, ingredientes, métodos de produção, rótulos e padrões. Eles estão buscando informações online ou por meio de aplicativos (apps) e celulares para ajudá-los a fazer escolhas mais conscientes, de acordo com suas crenças.” 

Fernanda cita que a chamada “Generation Green“, a Gen Z demonstra um comportamento ambiental e socialmente consciente do consumidor. “Com o aumento do poder aquisitivo e o acesso digitalmente melhorado à informação, eles estão traduzindo a consciência em escolhas de produtos conscientes, orgânicos e ecológicos. Esta geração é composta em grande parte por pessoas de classe média, sofisticados e conectados, que são cosmopolitas e que sabem o que fazer com a marca. Eles passam horas pesquisando marcas, pesquisando valores e ingredientes de marcas, optando por produtos naturais e evitando aditivos nocivos. Tendo crescido com a mudança climática como o único tópico global que dominou sua vida, a Geração Z exibe um comportamento de comprador social e ambientalmente consciente. Estes consumidores ecoconscientes tendem a apoiar marcas que possuem linhas de produtos, cadeias de fornecimento, éthos e processos sustentáveis, éticos e ambientalmente corretos.” 

Os varejistas têm a oportunidade de levar os consumidores a descobrir novas marcas e produtos e proporcionar uma nova experiência de compra. Entre os produtos que estão mostrando um crescimento dinâmico em todas as categorias, desde cuidados com o rosto e o corpo até cabelos, fragrâncias e maquiagem, e agora estão até surgindo nas categorias de produtos não muito atendidos como desodorantes, cuidados orais e higiene feminina. Fernanda diz ainda que o crescente interesse dos consumidores por esses produtos tem aberto oportunidades para perfumarias, farmácias e cadeias de saúde, spas e salões, além de plataformas de comércio eletrônico e mercado para expandir áreas dedicadas e melhorar a experiência de compra oferecendo produtos naturais e orgânicos autenticados, mas também ofertas limpas, sustentáveis e éticas seladas.  

A sócia diretora da Ahoaloe, Larissa Almeida Pessoa, acredita que a transparência nos valores e integridade do produto seja a chave na comunicação dos pontos de venda (PDVs). Para isso, o selo de certificação é uma alternativa favorável para ganhar a confiança do cliente. “Além da certificação a comunicação clara dos benefícios de transição para uma cosmetologia mais saudável, biocompatível e mais ética também é determinante para conquistar o consumidor.” 

Ela revela que dentro da área de cosméticos naturais, o nicho de skincare (cuidados com a pele) é o mais promissor. “Além disso, mesmo com as quedas em vários setores durante a pandemia, a busca por produtos de skincare tem aumentado. De acordo com o estudo “O Legado da Quarentena” da BTG Pactual, o setor de saúde foi um dos que cresceu nos últimos meses e o nicho de skincare foi o segundo mais significativo, sendo buscado 66% mais na Google.” 

Para o diretor geral da Beauty Fair, Cesar Tsukuda, um grande desafio é que os consumidores ainda não enxergam performance em um cosmético natural. “Então, esta é uma barreira que precisa ser quebrada. Hoje já existem muitos produtos com boa performance.” 

Ele ressalta que, historicamente, a perfumaria sempre foi um canal que desenvolveu novos segmentos, novas categorias, por ser um canal que gera experimentação, inclusive novos conceitos de produtos. “Os naturais precisam estar mais disponíveis nas prateleiras e a perfumaria também precisa desenvolver novas categorias, aumentando suas margens e, consequentemente, o desempenho dos seus negócios.” 

Cosmético vegano X natural 

Larissa, da Ahoaloe (empresa que estará presente da Beauty Fair, com muitas novidades), explica que os cosméticos veganos são aqueles que em toda sua cadeia de produção não permitem qualquer substância de origem animal. Isso inclui os ingredientes presentes em sua formulação, o material de embalagem, testes de eficácia ou dermatológicos livre de crueldade e qualquer outro tipo de procedimento que não obedeça a essa regra. O cosmético veganos não excluem o uso de químicos ou sintéticos, desde que estejam de acordo com suas diretrizes. 

Já os cosméticos naturais têm ingredientes extraídos de fontes naturais e podem conter uma porcentagem de outros ingredientes derivados de naturais. Esses ingredientes podem estar em maior ou menor concentração em um cosmético. Comonão existe definição legal na legislação brasileira, recorre-se a certificadoras particulares (como a brasileira IBD e a francesa Ecocert), atendendo seus parâmetros para poder oferecer um selo ao consumidor. 

Estes parâmetros incluem a presença de uma porcentagem mínima de ingredientes naturais na formulação de 98% e a proibição de alguns compostos. Entre eles estão compostos comprovadamente nocivos à saúde e ao meio ambiente (como derivados de petróleo e aromas sintéticos), ingredientes transgênicos, testados em animais, matéria prima originária de animais abatidos, dentre outras diversas proibições. 

Espaço exclusivo na Beauty Fair 2022 

Os produtos naturais fazem parte desse ecossistema e não há dúvida de que no futuro eles estarão presentes em diversos setores da economia, com ainda mais força.  

“Este ano, a Beauty Fair lançou um projeto de cosméticos naturais inédito, onde será possível, contribuir, de alguma forma, para o desenvolvimento dessa categoria de produtos, aproximando a indústria do varejo e esclarecendo também um pouco dos conceitos em relação ao que é produto vegano, o que é produto natural, quais são as diferenças, quais são os benefícios de um e de outro, para que o trade possa ter uma clareza de qual que é o perfil de cada consumidor, de cada marca, de cada produto”, revela Tsukuda. 

O executivo afirma que é papel das feiras, dos meios de comunicação e dos agentes do mercado de aproximar esses produtos do consumidor final, haja vista que é uma tendência sem volta. 

“Os visitantes da Beauty Fair poderão encontrar, sem sombra de dúvidas, neste espaço, o que há de melhor na parte de cosméticos naturais, os varejistas vão encontrar marcas que tenham no seu espírito, o interesse genuíno pelo desenvolvimento de cosméticos naturais”, finaliza.