Governança nas perfumarias: “Sucessão não é substituição”

A perfumaria é um negócio jovem no Brasil, se considerarmos que nenhuma grande rede completou 100 anos de mercado. E apesar do setor estar vivenciando um notório movimento de expansão, ainda há muito o que se fazer em termos de governança corporativa.

A maioria das perfumarias que opera hoje no país está na segunda, no máximo, terceira geração de liderança, revelando uma característica familiar deste tipo de empreendimento. Recente pesquisa Beauty Fair/Radar de 2022 afirma que no Brasil, 85% das perfumarias brasileiras são negócios liderados por família.

Considerando o mercado no geral, pouco menos de 30% das empresas familiares têm plano de sucessão para cargos-chave. Este percentual cai para 20% quando é considerado o plano de sucessão para o presidente do conselho de administração. Como gerar valor para as empresas valendo-se desse conhecimento?

Entendendo esse cenário, e conversando com lojistas nos mais variados eventos promovidos pela Beauty Fair, a empresa decidiu promover a 1ª Imersão em Governança Corporativa, em parceria como IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa).

O evento aconteceu entre os dias 21 a 22 de outubro de 2022, no Bourbon Convention Center, em São Paulo.

O que é Governança Corporativa

A governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas e organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas.

Ela é importante para qualquer empresa, independente do porte, ajudando no alinhamento de interesses que contribuem para qualidade da organização, sua longevidade e o bem comum.

Governança para perfumarias

Para essa primeira edição do programa Beauty Fair, seis grandes redes de perfumaria toparam o desafio de aprofundar seus conhecimentos, participando fundadores, segunda e até terceiras gerações.

“Não há dúvida que a experiência e a vocação ao empreendedorismo da primeira geração são decisivas para o crescimento dos negócios. As próximas gerações precisam achar seu espaço no dia a dia da empresa”, explica Cesar Tsukuda, diretor geral da Beauty Fair.

Como funciona na prática? A verdade é que, no final do dia, existe um choque de gerações e diferença de pensamentos. “É difícil ser filho de pais brilhantes. Os pais precisam ceder espaço e os filhos saberem ocupá-lo com respeito aos anteriores para gerar prosperidade”, acredita Tsukuda.

Para Cesar, este é o primeiro de muitos encontros que a Beauty Fair pretende promover. No próximo Líderes de Perfumaria, encontro nacional das 70 maiores perfumarias do Brasil, que acontecerá em abril de 2023, haverá uma sessão dedicada aos jovens líderes.

Governança Corporativa na prática

O programa tem por objetivo explicar o passo a passo para a implantação das boas práticas de governança nas empresas familiares, com cases de mercado e depoimentos de uma família empreendedora.

Um dos ministrantes foi Josmar Bignotto, membro do IBGC, conselheiro independente de diversas empresas brasileiras, desenvolvendo estratégias para o negócio familiar.

“Governança é uma jornada para todos os tamanhos de empresa e sucessão não é substituição. O processo é de transição, para respeitar, profundamente, o fundador”, explica Bignotto.

Para o especialista, um dos grandes legados da governança é incentivar a capacidade das lideranças de diferenciar família, propriedade e negócio. “Muitas empresas quebram por falta de planos sucessórios e, invariavelmente, uma confusão dos pais entre o bom filho e sua capacidade de gerir a empresa”.

“Falar de sucessão, não é falar da morte do fundador, é falar da vida da empresa”, diz Miriam Lika Ishiuma, da Toshimar Cosméticos.

“Foram dois dias de experiências enriquecedoras. Levo em meu coração lembranças, inspiração, motivação e muita gratidão por tudo que vivi e aprendi. Foi uma honra participar deste evento com pessoas tão especiais”, declara Tério Uehara, da Takeo Perfumaria.

Os 4 princípios da governança corporativa

Os processos de governança corporativa são orientados por quatro princípios, que ajudam a tangibilizar o que são as boas práticas. 

Transparência

Garanta que todas as partes interessadas tenham acesso às informações gerais e não apenas aquelas que são exigidas por leis relacionadas ao desempenho econômico;

Equidade

Tratamento justo e isonômico de todos; 

Prestação de contas

Além de prestar contas, é preciso fazê-lo de modo claro, compreensivo e tempestivo;  

Responsabilidade corporativa

Para zelar por sua viabilidade, as empresas devem reduzir externalidades negativas e aumentar positivas, considerando os capitais humano, social e ambiental

Principais armadilhas nas empresas familiares

• Confusão entre ser sócio e de ter capacidade de dirigir
• Confusão dos fluxos econômicos necessidade de liquidez
• Confusão entre laços afetivos (dimensão família) e dos negócios
• Transição de gerações e planos de sucessão
• Incompatibilidade cultural entre a família e executivos do mercado

Para se ter sucesso em uma empresa familiar, é preciso “combinar o jogo”. As regras devem estar claras, com um processo de transparência.

Prosperidade x Fracasso: investigando questões familiares do passado

Você sabia que emoções e atitudes mal resolvidas entre nossos familiares no passado influenciam diariamente nossas vidas? Essa é uma premissa estudada pelo campo da constelação sistêmica, um método desenvolvido pelo psicoterapeuta alemão Bert Hellinger.

“Padrões familiares e de negócios tendem a se repetir no futuro. Quando você toma consciência disso, tem a oportunidade de fazer diferente”, explica Marie Suzuki Fujisawa, especialista no tema e gerente de conteúdo e relacionamento da Beauty Fair. Marie foi uma das ministrantes do programa.

Marie ainda acrescenta: “para o escolhido e/ou sucessor, existe o reconhecimento da competência, mas para os irmãos ecoa como: papai ama mais meu irmão. Quando deixamos de julgar, incluímos o fundador ou antigo dono e ficamos no nosso lugar certo na família, é natural encontrarmos nosso lugar na empresa e no mundo”.

Dicas sistêmicas para o seu negócio

• Não julgue nada e nem ninguém. Não existe certo e errado, existe o que conecta você à sua família;
  
• Seja menos exigente. Só podemos dar o que temos em abundância. Desta forma, perceberá que todos os seus colaboradores estão dando o melhor que possuem dentro de si;
  
• Olhe com carinho e respeito para o antigo dono ou proprietário. Você não está substituindo ninguém. Seu papel é de dar continuidade. Desta forma, verá que os colaboradores que trabalharam com ele poderão te seguir sem se sentir culpados.
  
• Honre seus ancestrais/fundador tendo a permissão de fazer diferente. Imagine seus familiares vendo você prosperando e se sentindo orgulhos e felizes. Essa imagem poderá te fortalecer a seguir em frente.